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Um parente que ficou para trás

A análise do DNA de ossadas de milhares de anos e de amostras de populações atuais revela indícios de mais um hominídeo com o qual teríamos convivido

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 jan 2021, 12h07 - Publicado em 25 jan 2019, 07h00

A trama de A Guerra do Fogo (1981), premiadíssimo filme do francês Jean-Jacques Annaud — faturou, entre outros troféus, o Oscar de melhor maquiagem —, se passa em algum momento da pré­-história, época em que conviviam, às vezes de forma violenta, diversas espécies humanas. O roteiro imagina nossos parentes distantes em disputas tribais por território, alimentos e, sim, tecnologia — no caso, a que lhes permitiria o domínio do fogo, como o título do longa-­metragem deixa entrever.

Apesar das láureas, quando foi lançado o filme de Annaud pareceu um exercício de especulação, pois se baseava em teorias pouco comprovadas. Desde então, em quase quarenta anos, a ciência avançou muito e encontrou pistas de que a situação descrita em A Guerra do Fogo realmente ocorrera, cerca de 50 000 anos atrás. Naqueles dias, como já se sabia, o Homo sapiens, nossa espécie, disputava o planeta com dois tipos de hominídeo: o homem de Neandertal e o homem de Denisova. Agora, porém, surgiu uma novidade. De acordo com um artigo divulgado na publicação inglesa Nature Communications, é provável que o Homo sapiens tenha convivido com um terceiro hominídeo, ainda não catalogado.homo

A descoberta — e este é outro fator novo — se deveu não exatamente a progressos na pesquisa paleontológica, como costuma acontecer, e sim à ciência genética. Nas últimas duas décadas, revelou-se, por análises de fósseis, que toda a população mundial possui no mínimo 2% de genes iguais aos registrados em neandertais. Já em povos atuais da região do Pacífico foi possível encontrar 5% de traços provenientes do homem de Denisova. A única explicação para tal mescla seria o cruzamento entre essas espécies, incluindo o Homo sapiens.

Os indícios do novo hominídeo surgiram do aprofundamento dos estudos nessa linha. “Descobrimos evidências genéticas de que é preciso que tenha existido outra espécie para complementar o DNA de híbridos de neandertais tanto com o homem de Denisova quanto com o Homo sapiens”, explicou a VEJA o biólogo espanhol Òscar Lao, do Centro Nacional de Análises Genômicas de Barcelona, responsável pela pesquisa.

A desconfiança sobre a existência de um parente desconhecido do homem começou com a escavação de fósseis, em junho de 2018, de uma adolescente que viveu 50 000 anos atrás na Sibéria. O material genético da garota, que teria morrido aos 13 anos, misturava caraterísticas de neandertais e denisovianos. Contudo, indicava ainda alguma presença de DNA de uma terceira espécie não identificada. Resquícios dos genes desconhecidos também foram encontrados, por um software que vasculha bancos modernos de DNA, em pessoas que hoje vivem no leste da Ásia e na Oceania. Ou seja: há cerca de 50 000 anos o Homo sapiens se relacionou não apenas com neandertais e denisovianos mas também com outra espécie humana. Por que esses nossos parentes distantes desapareceram? A tese mais aceita é que mudanças climáticas dificultaram sua vida entre as espécies do gênero Homo, que passaram a travar disputas por alimentos e, sim, tecnologia. Não é preciso dizer quem venceu essa guerra.

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(Arte/VEJA)

Publicado em VEJA de 30 de janeiro de 2019, edição nº 2619

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