Relâmpago: Assine Digital Completo por 1,99

Templo milenar encontrado no Peru revela uso mais antigo de alucinógenos nos Andes

Arqueólogos descobriram que tabaco e uma planta com efeito semelhante ao da ayahuasca eram inalados por chefes religiosos há 3 mil anos

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 Maio 2025, 15h03 - Publicado em 12 Maio 2025, 15h00

Durante escavações no complexo arqueológico de Chavín de Huántar, nos Andes peruanos, pesquisadores encontraram uma câmara subterrânea lacrada há cerca de 2.500 anos. Dentro dela, estavam 23 artefatos — principalmente tubos de ossos ocos e uma concha — associados ao consumo de substâncias psicoativas. A descoberta foi publicada na revista PNAS e marca a evidência mais antiga do uso ritualizado de alucinógenos no mundo andino, anterior até mesmo ao Império Inca.

Aqueólogos analisaram os resíduos químicos e botânicos presentes nos tubos e identificou traços de vilca (Anadenanthera colubrina), planta sul-americana que contém DMT, e tabaco selvagem (Nicotiana), ambos usados para provocar alterações de consciência. A presença de grãos de amido danificados por calor sugere que as substâncias eram secas, torradas, pulverizadas e depois inaladas — um processo semelhante ao de produção de rapé.

Os artefatos de osso dos quais foram recuperados resíduos de substâncias psicoativas.
Os artefatos de osso dos quais foram recuperados resíduos de substâncias psicoativas. (Rick et al., PNAS, 2025/Reprodução)

Quem tinha acesso a esses rituais?

O espaço onde os tubos foram achados era pequeno e de acesso controlado, indicando que as cerimônias não eram abertas ao público. A ingestão de psicoativos parece ter sido uma prática reservada à elite espiritual e política, usada para reforçar sua autoridade e status. Essa câmara — uma entre outras do complexo — estava selada e intacta desde aproximadamente 500 a.C., o que garantiu a preservação dos artefatos.

Pesquisadores afirmam que o uso ritual de alucinógenos não era apenas uma experiência sensorial, mas fazia parte de uma estrutura ideológica que ajudava a legitimar a desigualdade social. A monumentalidade do templo, localizado a mais de 3.000 metros de altitude, e os efeitos transformadores das substâncias provavelmente tinham papel central na construção do poder simbólico da cultura Chavín, uma das civilizações formativas dos Andes.

Continua após a publicidade
A pequena sala onde os artefatos foram encontrados.
A pequena sala onde os artefatos foram encontrados. (Rick et al., PNAS, 2025/Reprodução)

O que a descoberta revela sobre os Andes pré-incas?

A pesquisa confirma, pela primeira vez, a utilização concreta de substâncias alucinógenas em contextos rituais no início da complexificação política da região. Até então, arqueólogos apenas especulavam sobre o papel de psicoativos nessas culturas. Segundo os autores do estudo, essa prática pode ter desempenhado uma função importante na transição de sociedades mais igualitárias para sistemas hierárquicos, antecipando a organização social de civilizações posteriores como Tiwanaku, Wari e os próprios incas.

O achado também amplia o mapa do uso ritual de vilca e tabaco nos Andes, sendo o registro mais ao norte já documentado. Para os arqueólogos, ele oferece novas pistas sobre como experiências religiosas intensas moldaram as crenças e estruturas sociais dos povos pré-colombianos — e mostra que as práticas humanas com psicoativos têm raízes mais antigas do que se imaginava.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ECONOMIZE ATÉ 88% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.