Temperatura em terras indígenas é até 5°C menor que em áreas desmatadas
Estudo aponta que em áreas protegidas a evapotranspiração, um tipo de "chuvas às avessas", pode ser três vezes maior que em áreas não protegidas
Nesta terça-feira, 5, é celebrado o Dia da Amazônia. E um novo estudo, divulgado hoje, mostra como a floresta protegida atua como um “ar-condicionado” natural. Segundo informações da pesquisa, realizada pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com o Centro de Pesquisa em Clima Woodwell, a temperatura média anual dentro do Território Indígena do Xingu é 5°C menor do que a registrada no entorno, em áreas devastadas ou dominadas por monoculturas.
O fenômeno, causado pela evapotranspiração, uma espécie de “chuva às avessas” que devolve água à atmosfera, é percebido em toda a Amazônia Legal. Segundo o estudo, terras indígenas têm 2°C a menos de temperatura em comparação com áreas não protegidas.
Os pesquisadores identificaram que a evapotranspiração é quase três vezes maior do que em áreas desmatadas. No restante da Amazônia Legal, em áreas ocupadas por populações indígenas, a taxa é até 9% superior em relação a áreas não protegidas, o suficiente para alterar o regime de chuvas da região.
O estudo integra uma série criada pelo IPAM em junho com o objetivo de mostrar os riscos aos direitos indígenas, à biodiversidade e ao clima que estão em jogo por causa da tramitação do PL 2903/2023, em pauta no Senado Federal, e pela tese do Marco Temporal das terras indígenas, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
“O Estado brasileiro tem um enorme passivo para demarcar terras indígenas. A aprovação do PL 2903 e da tese do Marco Temporal significa aumentar ainda mais a dívida histórica do país com os povos originários e, em seu bojo, traz também riscos climáticos que colocam em xeque o nosso futuro”, afirma Martha Fellows, coordenadora no núcleo de estudos indígenas do IPAM e autora do estudo, em comunicado à imprensa.
A nota técnica aponta ainda que terras indígenas na Amazônia Legal guardam 55 bilhões de toneladas de carbono, o equivalente a 26 anos de emissões brutas do Brasil. Essas reservas seriam prejudicadas pelo avanço de atividades ilegais na área, como o desmatamento e o garimpo.