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Série Brasil no Espaço: a cabeça do comandante

Marco Antonio Chamon, presidente da Agência Espacial Brasileira, responde a crítica de que no Brasil não há ciência espacial

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jan 2025, 13h46 - Publicado em 30 jan 2025, 08h00

No final do século XX, a maior parte dos alunos de engenharia, em especial os formados pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, no interior de São Paulo, sonhava em ir trabalhar na Embraer, uma empresa brasileira que estava em franco crescimento. Um dos alunos, contudo, olhava para uma área, à época, bem menos atrativa no país. Longe de ser um dos estudantes mais convencionais da turma, Marco Antônio Chamon desenvolveu um interesse especial pela astronomia e tinha como um dos seus principais objetivos seguir carreira acadêmica para conseguir trabalhar no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O sonho deu certo. Ele acabou terminando sua formação em engenharia elétrica na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e recebeu a oportunidade de trabalhar no Inpe ao mesmo tempo em que conduzia seu mestrado. A formação terminou, mas o trabalho não. Foram 39 anos no Instituto, desenvolvendo sistemas de navegação por GPS e sistemas de telecomunicações para aplicações espaciais, até que foi convidado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia para chefiar a Agência Espacial Brasileira (AEB). “Achei que valeria a pena ter história para contar para os netos, então aceitei me tornar presidente da AEB”, conta Chamon. 

Ele viu a AEB nascer e sempre teve contato com o trabalho da agência, porque participou do desenvolvimento de satélites importantes, mas quando passou a integrar a equipe se deparou com uma série de atividades que não sabia que faziam parte do escopo. Justamente por isso, já há mais de um ano à frente da gestão, ele é uma das pessoas mais aptas a responder a crítica de que o Brasil não está envolvido na ciência espacial. 

De acordo com ele, é fato que a AEB tem um trabalho mais voltado para o espaço próximo, afeito a observações terrestres, do que a exploração do espaço profundo, como a Nasa ou a ESA, agência espacial europeia, fazem. Dois exemplos disso foram observados em 2024: durante a tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, os satélites nacionais foram essenciais para avaliar o nível do impacto e, de maneira semelhante, a mesma capacidade observacional foi importante para constatar a queda do desmatamento na Amazônia e no Cerrado. 

E isso não deve mudar tão cedo. Em 2025, uma parceria com a Argentina deve lançar a constelação SABIA-MAR, que contará com radares que possibilitarão o monitoramento dos corpos de água terrestres. Enquanto isso, segue plena a parceria com a China para o lançamento do satélite CBERS-6, que fornecerá imagens aéreas de alta resolução para os dois países. “Estamos promovendo empresas que possam agregar valor a esses dados e prestar serviços, fortalecendo a nossa economia espacial privada”, ele afirma.

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Por outro lado, defende que há, sim, linhas sendo desenvolvidas para a exploração espacial que não estejam necessariamente voltadas com o monitoramento terrestre. A parceria com a Nasa para o desenvolvimento de pesquisa em Space Farming é uma delas, mas a agência também começa a explorar uma outra área, voltada para a pesquisa em microgravidade. Hoje, o país possui foguetes suborbitais e está desenvolvendo outros. Esses equipamentos podem ser utilizados para estudar o comportamento de células e moléculas em baixa gravidade, sem que seja necessário o envio para o espaço. Há ainda um acordo com a Agência Espacial Francesa para o desenvolvimento de balões estratosféricos com a capacidade de carregar até duas toneladas de equipamentos científicos para camadas altas da atmosfera. 

O progresso ocorre a passos curtos, afinal, o orçamento da AEB é bem menor que o de agências ou empresas espaciais de destaque, mas aos poucos novas áreas de exploração começam a ser alcançadas. Em 2024, por exemplo, a agência reativou o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, que, junto da base de Alcântara deverá aumentar os serviços prestados pela AEB a empresas do setor. No ano que começa, aliás, deverá ocorrer o primeiro lançamento de um satélite brasileiro partindo de solo nacional, em um foguete coreano. 

Além disso, a instituição segue em busca de parcerias para o desenvolvimento de pesquisas que, no futuro, poderão abrir novas áreas de atuação da agência. Além da celebrada parceria com a Embrapa, há a intenção de trabalhar com a Petrobras para exploração mineral no espaço e com outros setores públicos e privados para um melhor aproveitamento dos dados fornecidos pelos satélites brasileiros. 

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Chamon avalia ainda que todas essas atividades também têm convidado a participação de atores privados na economia espacial, inclusive fomentadas por editais do governo para a produção de satélites e foguetes. “Ainda é muito modesto no Brasil, especialmente se compararmos com o tamanho do setor lá fora”, ele afirma. Isso acontece porque, no exterior, há muitas empresas investindo em startups de exploração espacial, o que ainda não é comum na cultura brasileira. Ainda assim, há pequenas empresas com investimento próprio trabalhando em atividades educacionais ou oferecendo serviços de observação, monitoramento de lixo espacial e lançamento de pequenos radares. Que o espaço esteja sempre aberto à inovação. 

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Série Brasil no Espaço: essa reportagem é a última de uma sequência de quatro matérias que buscam desmistificar a ideia de que o Brasil não faz ciência espacial. Hoje, o investimento nessa área de pesquisa é pequeno e o impacto internacional ainda não é tão amplo quanto o das grandes economias, mas consideramos importante mostrar que existem bons profissionais no Brasil e que, mesmo sem grandes apostas, há potencial para encontrar boas soluções e ganhar protagonismo nesse ambiente cada dia mais competitivo. 

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