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Restos mortais de montanhista são encontrados após um século

A descoberta, feita por uma equipe de documentaristas, pode acrescentar novas pistas a um dos maiores mistérios do alpinismo

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 out 2024, 16h56

Em 8 de junho de 1924, George Mallory estava no acampamento mais alto do mundo. Dois dias antes, ele e Andrew Comyn Irvine, conhecido como Sandy, haviam deixado a base do Monte Everest em busca do cume. Essa era a terceira expedição de Mallory, que já conhecia bem a montanha. Em tentativas anteriores, ele escapara por pouco da morte. Mas em 1924, o desfecho trágico foi inevitável. Na última tentativa de conquistar o Everest, Mallory e Irvine foram derrotados pela montanha. O corpo de Mallory foi encontrado apenas em 1999, pelo alpinista Conrad Anker. O de Irvine, entretanto, continuou desaparecido. Agora, cem anos depois, uma equipe do National Geographic acredita ter encontrado o corpo de Irvine, o que pode finalmente solucionar um dos maiores mistérios da história do montanhismo.

Uma equipe de documentaristas, incluindo o diretor vencedor do Oscar Jimmy Chin e os alpinistas e cineastas Erich Roepke e Mark Fisher, encontrou uma bota emergindo do gelo. “É a primeira evidência real de onde Sandy foi parar”, disse Chin à National Geographic. O pé, calçado com uma bota e meias com o nome de Irving, foi localizado na Geleira Rongbuk Central, abaixo do local onde os restos de Mallory foram encontrados.

VEJA MAIS: Correspondência do mítico alpinista George Mallory mistura amor e ciência 

Os restos mortais foram enviados para a China Tibet Mountaineering Association, responsável pelas autorizações de escalada no lado norte do Everest. A descoberta também foi reportada à Royal Geographical Society, que organizou a expedição de Irvine e Mallory, há um século, e à sobrinha-neta e biógrafa de Irvine, Julie Summers.

Para Summers, este novo fato oferece um tipo de encerramento para uma história que sua família carrega há gerações.  “É um objeto que pertencia a ele e tem um pouco dele nele”, ela diz sobre a bota. “Ela conta toda a história sobre o que provavelmente aconteceu. Ela acredita que os restos de Irvine foram possivelmente arrastados por avalanches ao longo dos anos, explicando por que nunca haviam sido encontrados antes. Membros da família se ofereceram para compartilhar amostras de DNA para comparar com os restos mortais a fim de confirmar sua identidade. 

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Embora a equipe de Chin tenha recuperado apenas a bota e o pé, há esperança de que outros artefatos estejam por perto. “Isso certamente reduz a área de busca”, afirmou Chin. 

O Legado de Mallory e Irvine

A morte dos alpinistas criou uma aura de heroísmo e sacrifício, além de um mistério que persiste até hoje: teriam sido eles os primeiros a alcançar o topo do mundo? Estariam descendo após conquistar o cume, ou morreram antes de chegar lá? Perguntas como essas mantêm vivo o fascínio por Mallory e Irvine, mesmo um século após sua trágica morte. “Eles assumiram riscos para ultrapassar limites e, no fim, isso lhes custou a vida”, disse Katy Green, arquivista da Magdalene College, vinculada à Universidade de Cambridge, responsável por divulgar correspondências inéditas de Mallory.

 

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A meia, com o nome de Irvine, foi encontrada junto com uma bota e um pé, emergindo do gelo da Geleira Central Rongbuk – (Jimmy Chin / National Geographic/Reprodução)
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Essas especulações foram alimentadas pelo desaparecimento de uma câmera que a dupla levava consigo, a qual poderia conter evidências fotográficas de sua conquista. Entretanto, a câmera não foi encontrada junto ao corpo de Mallory. Além disso, uma fotografia de sua esposa Ruth, que ele prometeu deixar no cume, também estava ausente.

Na expedição de 1924, Mallory e Irvine decidiram usar oxigênio em sua tentativa final de escalada. O uso de tal equipamento era controverso na época, mas permitia que alpinistas inexperientes atingissem maiores altitudes. No entanto, a expedição foi marcada por doenças e um planejamento deficiente. “As chances estão 50 a 1 contra nós”, escreveu Mallory em sua última carta à esposa.

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Ao longo dos anos, a busca por respostas sobre o destino de Mallory e Irvine alimentou diversas teorias. Alguns especulavam que alpinistas chineses haviam encontrado o corpo de Irvine e mantido a descoberta em segredo. No entanto, Summers acredita que a recente descoberta desmente essa hipótese.  “Acho que a descoberta de Jimmy respondeu totalmente a essa pergunta”, afirmou ela.

O Futuro das Buscas

Apesar do impacto da descoberta, Chin e sua equipe decidiram manter em segredo a localização exata dos restos mortais, para evitar a invasão de caçadores de troféus. Ainda assim, permanecem otimistas de que outros artefatos, e quem sabe até a tão procurada câmera, possam ser encontrados.

Cem anos após a trágica morte de Mallory e Irvine, o Monte Everest está mais movimentado do que nunca. Desde 1953, quando Edmund Hillary e Tenzing Norgay foram oficialmente os primeiros a atingir o cume, mais de 6 mil alpinistas já tentaram a mesma travessia. Cerca de 300 perderam a vida. No ano passado, o Nepal emitiu 463 licenças para alpinistas estrangeiros, um recorde, o que gerou preocupações sobre o congestionamento no topo.

A descoberta de Sandy Irvine no gelo eterno do Everest não apenas responde a antigas perguntas sobre seu paradeiro, mas também reacende a busca por respostas definitivas sobre um dos maiores mistérios da história do alpinismo. Para famílias, alpinistas e historiadores, essa bota, que há pouco mais de uma semana estava congelada na geleira, pode ser o início do desfecho de uma longa espera por respostas.

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