Relevo com deuses da Mesopotâmia é descoberto em palácio milenar no Iraque
Cena esculpida há mais de 2.700 anos mostra o último grande rei assírio ladeado por seres míticos e pode lançar nova luz sobre os rituais de poder da época

Arqueólogos da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, fizeram uma descoberta impressionante no norte do Iraque: fragmentos de um enorme relevo esculpido em pedra que representa o rei Assurbanípal, o último grande governante do império assírio, acompanhado por duas divindades e outras figuras simbólicas. A peça estava no que foi o salão do trono do Palácio Norte da antiga cidade de Nínive, uma das mais importantes da Mesopotâmia.
O relevo mede cerca de 5,5 metros de comprimento por 3 metros de altura e pesa aproximadamente 12 toneladas. Segundo os pesquisadores, ele é extraordinário não apenas pelo tamanho, mas também por retratar divindades assírias — algo muito raro entre os artefatos já encontrados nos antigos palácios do império.

Quem são as figuras representadas no relevo?
No centro da composição aparece o próprio Assurbanípal, que governou no século VII a.C. Ao seu lado estão os deuses Ashur, principal divindade do panteão assírio, e Ishtar, deusa da fertilidade e da guerra, protetora da cidade de Nínive. Atrás deles, surgem duas figuras mitológicas: um “gênio-peixe”, ser associado à vida e à salvação, e uma criatura de braços erguidos que os arqueólogos acreditam ser um escorpião-humano — personagem comum nas mitologias da região.
O conjunto de figuras sugere que um grande disco solar alado, símbolo divino, pode ter decorado a parte superior do relevo. Os detalhes serão analisados nos próximos meses com base nos dados coletados no local.
Por que essa descoberta só foi feita agora?
Apesar de o Palácio Norte de Nínive ter sido escavado por britânicos no século XIX — com parte dos relevos hoje em exibição no Museu Britânico, em Londres — esse painel específico permaneceu escondido. Os fragmentos estavam enterrados em uma cova atrás de uma das paredes do trono, provavelmente aberta no período helenístico, entre os séculos III e II a.C.
Esse esconderijo acidental pode ter sido justamente o que preservou a obra por tanto tempo e impediu que fosse encontrada nas escavações anteriores. Agora, com o apoio do Conselho de Antiguidades do Iraque, o plano é restaurar o relevo e recolocá-lo no lugar original, para futura visitação pública.
A cidade de Nínive, situada próxima à atual Mossul, foi capital do império assírio no final do século VIII a.C. e centro político e cultural da região. A descoberta reforça a importância histórica do local e revela novos elementos sobre o poder e a religiosidade do último grande rei da Assíria.