O britânico James Lovelock é um dos criadores de uma das mais bonitas ideias de nosso tempo, a Hipótese de Gaia. Segundo o cientista e a microbiologista americana Lynn Margulis, o planeta Terra é um imenso organismo vivo, capaz de obter energia para seu funcionamento, regular seu clima e temperatura e combater suas próprias doenças. Seria, portanto, capaz de “se autorregular”. Nesta quarta-feira, 27, a família anunciou que ele morreu na noite de terça, em sua casa na Inglaterra. Ele tinha 103 anos.
A Hipótese Gaia foi proposta pela primeira vez na década de 1970. Lovelock e Margulis disseram que a atividade humana desequilibrou o sistema perigosamente. Um comunicador poderoso, ele usou livros, discursos e entrevistas para alertar sobre a desertificação, a devastação agrícola e as migrações em massa que as mudanças climáticas trariam. “A biosfera e eu estamos no último 1% de nossas vidas”, disse Lovelock ao jornal The Guardian em 2020.
Inicialmente descartada por muitos cientistas, a teoria tornou-se influente à medida que crescia a preocupação com o impacto da humanidade no planeta, principalmente por causa de seu poder como metáfora. Gaia é a deusa grega da Terra.
Lovelock não se importava de ser um estranho. Ele indignou muitos ambientalistas ao apoiar a energia nuclear, dizendo que era a única maneira de parar o aquecimento global. “A oposição à energia nuclear é baseada no medo irracional alimentado pela ficção ao estilo de Hollywood, os lobbies verdes e a mídia”, escreveu ele em 2004.
O último livro de Lovelock, Novacene, publicado quando ele completou 100 anos em 2019, propôs que os humanos seriam substituídos na Terra por ciborgues.
“Para o mundo, ele era mais conhecido como pioneiro científico, profeta climático e idealizador da teoria de Gaia”, disseram os familiares de Lovelock em um comunicado. “Para nós, ele era um marido amoroso e um pai maravilhoso com um senso de curiosidade sem limites, um senso de humor travesso e uma paixão pela natureza.”
A família disse que haverá um funeral privado, seguido por um serviço memorial público em uma data posterior. Lovelock deixa sua esposa Sally e os filhos Christine, Jane, Andrew e John.