Por que a Nasa enviará bactérias à estratosfera durante eclipse
Objetivo é aproveitar o fenômeno para simular as condições de Marte e saber se os microrganismos conseguem sobreviver a elas
Os Estados Unidos já começaram os preparativos para um dos maiores espetáculos celestes do ano – um eclipse solar que cobrirá o país de ponta a ponta em 21 de agosto. Em algumas cidades ele será total (quando a Lua cobre totalmente o Sol, escurecendo o céu) e em outras parcial (quando uma parte do Sol fica descoberta), mas em todas será possível apreciar o fenômeno. E a Nasa aproveitará a oportunidade para enviar pequenas colônias de bactérias a bordo de balões às partes mais altas da estratosfera, a 30,5 quilômetros da superfície terrestre (quase no limite com o espaço). O objetivo, segundo a agência espacial, é saber se os seres vivos conseguiriam sobreviver em Marte.
De acordo com a Nasa, a altitude na qual os balões vão estar permite simular as condições climáticas do planeta vermelho. Com isso, seria possível verificar o que ocorre com os microrganismos quando eles são transportados da Terra para Marte por meio das sondas que enviamos para lá. A dúvida é se, uma vez que as bactérias estão no planeta, elas conseguem sobreviver e se reproduzir ou acabam morrendo. “É realmente um excelente experimento de astrobiologia e proteção planetária”, diz o diretor de ciência planetária da Nasa, Jim Greene, em entrevista ao The Verge.
As bactérias serão transportadas em 34 balões, lançados por estudantes de Ensino Médio e universidades americanas de 20 localidades do país. Os veículos estarão equipados com câmeras, sensores climáticos e modems que fornecerão internet para fazer uma transmissão ao vivo do eclipse visto quase do espaço.
A parte superior da estratosfera da Terra, que fica logo acima da camada de ozônio, é muito parecida com a superfície de Marte. A temperatura chega a 1,6ºC, o ar é muito rarefeito e, a essa altitude, a radiação ultravioleta do Sol é ainda mais intensa do que no planeta vermelho. Por isso, o eclipse será a parte essencial para aproximar ainda mais as condições climáticas dos dois planetas, fazendo com que as temperaturas caiam mais aqui na Terra e a Lua barre uma parte dos raios ultravioletas.
As bactérias que viajarão até o limite com o espaço também não são microrganismos quaisquer. Elas são chamadas Paeribacillus xerothermodurans, e são um dos tipos de bactérias mais resistentes de que se tem notícia. Quando as condições se tornam adversas, elas são capazes de formar escudos de esporos que lhes permitem sobreviver. Estudos anteriores demonstram que, para matar 90% de uma colônia dessas bactérias, são necessárias 140 horas a uma temperatura constante de pelo menos 122,8ºC, disse o astrobiólogo Parag Vaishampayan, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, ao site. Felizmente, esses microrganismos não são perigosos para seres humanos ou para o ambiente.
As bactérias foram inseridas em pequenos cartões metálicos. Para cada cartão que será lançado, um correspondente permanecerá na Terra para funcionar como grupo controle. No dia do eclipse, os balões serão lançados a cada 15 minutos em estados que estão no “caminho da totalidade” (como são chamadas as áreas em que o Sol ficará 100% encoberto). Depois de voar por quase duas horas, os veículos retornarão à terra firme e os alunos responsáveis vão recolher os cartões metálicos e enviar aos laboratórios da Nasa para análise.
Os cientistas pretendem avaliar quantas bactérias morreram ou sobreviveram e se sofreram alguma mutação no DNA. Se algumas conseguirem retornar vivas à Terra, isso pode significar que esses microrganismos já podem ter sobrevivido a alguma viagem passada a Marte, embora os cientistas não tenham como ter certeza se alguma sonda enviada ao planeta estava contaminada com bactérias dessa espécie. Independentemente dos resultados – e se há exemplares de Paeribacillus xerothermodurans em Marte ou não –, o estudo pode ajudar a Nasa a aprender mais sobre bactérias resistentes e como elas podem infectar outros planetas espaço a fora.