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Pesquisadores tentam tirar do risco de extinção o rinoceronte-de-sumatra

Trata-se da menor e mais antiga espécie do animal asiático

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h54 - Publicado em 29 jan 2023, 08h00

O rinoceronte-de-sumatra já foi encontrado em grande número no leste e sudeste da Ásia, mas hoje apenas algumas dezenas de animais vagam pelas florestas tropicais da ilha e na parte indonésia de Bornéu. Conservacionistas afirmam que, das cinco espécies ainda existentes do segundo maior mamífero terrestre, esta é uma das mais ameaçadas — restam apenas cerca de oitenta no mundo — em razão da caça e da destruição de seu hábitat. Para reverter essa situação, o governo da Indonésia e especialistas de organizações independentes tentam, desde os anos 1980, reunir as populações selvagens restantes, dispersas e fragmentadas, em instalações de reprodução assistida. No entanto, os resultados, até agora, são de pouca monta. Outra iniciativa, com melhores perspectivas, busca soluções científicas para superar a atual dificuldade de acasalar machos e fêmeas.

Um dos caminhos envolve o uso de amostras de pele do último rinoceronte-de-sumatra macho da Malásia, conhecido como Kertam, que morreu em maio de 2019. A partir delas, um grupo internacional de cientistas cultivou células, com o pomposo nome de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs), capazes de se dividir infinitamente (sem morrer) e também de se transformar em qualquer tipo de corpúsculo do organismo. Trabalha-se também com um outro recurso, o de organoides da espécie. Conhecidos como minicérebros e fabricados com essas mesmas células versáteis, ajudam a conhecer a evolução do cérebro em mamíferos e podem desvendar a história pregressa da família dos rinocerontes.

ORIGEM - Minicérebros: úteis para conhecer a evolução da espécie -
ORIGEM - Minicérebros: úteis para conhecer a evolução da espécie – (Silke Frahm-Barske/Max Delbrück Center/.)

A ideia do grupo, de acordo com celebrado artigo publicado na revista iScience, é usar as células-tronco cultivadas também para criar óvulos e espermatozoides, em fenomenal salto de conhecimento. O plano é utilizar os gametas em processos de fertilização em laboratório. O embrião resultante seria inserido em uma fêmea substituta, iniciando uma nova cadeia reprodutiva desses animais. A obtenção das células reprodutivas é vital para isso. “Como a qualidade do sêmen de rinocerontes-de-sumatra é ruim logo após a coleta e ainda pior após a preservação em gelo e descongelamento, os espermatozoides gerados in vitro oferecem uma ótima alternativa para a reprodução assistida”, diz Vera Zywitza, cientista do Centro Max Delbrück, na Alemanha, e principal autora do estudo.

Há, contudo, muitos obstáculos pela frente, a começar pela dificuldade em encontrar a fêmea para gestar. “As fêmeas que não engravidam há muito tempo geralmente se tornam inférteis ou podem ser velhas para gerar filhotes de forma natural”, diz Zywitza. Um passo para tornar ao menos essa última tarefa menos complexa já foi dado. Especialista em reprodução do Instituto Leibniz de Pesquisa em Zoológicos e Vida Selvagem e coautor da pesquisa, Thomas Hildebrandt explica que o governo da Indonésia reuniu parte dos indivíduos restantes em reservas de vida selvagem, o que facilitará a identificação das fêmeas aptas a participar do processo.

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arte Rinoceronte

Os produtos obtidos a partir da pele de Kertam servem ainda a outro propósito: obter informações sobre a evolução do desenvolvimento de órgãos. Por isso, Silke Frahm-Barske, outra participante da pesquisa, cultivou os chamados organoides cerebrais ou minicérebros. “Até onde sabemos, eles só haviam sido obtidos de camundongos, humanos e primatas não humanos até agora”, disse.

As tentativas de preservar o rinoceronte-de-sumatra, a menor e mais antiga espécie viva de rinoceronte, são louváveis, claro. Mas eles sabem que outras frentes precisam avançar. “Embora nosso trabalho esteja tentando tornar possível o que é aparentemente impossível — garantir a sobrevivência de animais que provavelmente desapareceriam do planeta —, isso deve permanecer uma exceção, e não regra”, enfatiza Zywitza. “O que fazemos pode, na melhor das hipóteses, dar uma pequena contribuição para salvar esses animais da extinção.” Trata-se, portanto, de proteger e conservar os poucos hábitats remanescentes desses belos mamíferos. É o mínimo que se pode fazer por eles, pelo bem da biodiversidade do planeta — em nome também da humanidade.

Publicado em VEJA de 1º de fevereiro de 2023, edição nº 2826

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