Considerado um dos maiores artistas de todos os tempos, Van Gogh pintou mais de 2 mil obras em seus curtos 37 anos de vida. Famoso por suas pinturas em tons vibrantes e traços fortes, o pintor vivia atormentado por problemas mentais. Durante toda a vida, Van Gogh apresentou instabilidades e distúrbios comportamentais associados ao transtorno bipolar ou à epilepsia, o diagnóstico nunca fora efetivamente fechado. Agora, um estudo feito com base nos autorretratos e nas cartas escritas pelo pintor holandês sugere que o gênio pós-impressionista pode ter sofrido também de apneia do sono.
A constatação foi feita pelo pesquisador brasileiro Jorge Faber, que coordenou a pesquisa junto às universidades de Stanford e Yale. O estudo mapeou o rosto de Van Gogh a partir de 35 autorretratos e contou com a ajuda da inteligência artificial para reconstituir sua estrutura facial em modelos de imagem 3D. O pesquisador também analisou cerca de 840 correspondências do artista, a fim de identificar reclamações recorrentes sobre seu estado de saúde. “A ideia da pesquisa surgiu enquanto eu andava pelo museu [de Van Gogh, na Holanda] e comecei a notar que o formato do rosto do artista parecia com o de pacientes que eu costumava tratar”, diz Jorge Faber.
A reconstrução em três dimensões permitiu que os pesquisadores girassem a face do artista, tornando possível a observação por diferentes ângulos. Com as informações coletadas nas cartas, o grupo elaborou uma espécie de prontuário médico, registrando as queixas recorrentes do ilustre paciente. As imagens e o prontuário foram enviados para os principais especialistas em sono do mundo, com a pegadinha de não informar que os dados se referiam a Van Gogh. Cerca de 56 profissionais compartilharam sua opinião especializada com o grupo de pesquisadores. A maioria concordava que, dadas as informações do prontuário e as características da face, haveria uma probabilidade alta de o pintor sofrer de apneia do sono.
Essa condição pode ter feito com que Van Gogh apresentasse sintomas como ronco, insônia, irritabilidade, cansaço crônico e mal-estar, além de contribuir para problemas cardíacos e neurológicos. Atualmente, a doença do pintor atinge cerca de 20% da população mundial. “O principal objetivo da pesquisa foi alertar para essa condição, que é constantemente negligenciada e, muitas vezes, deixa de ser tratada por ser considerada menos grave que outras doenças”, afirma Faber.
O pesquisador lembra que a apneia afeta diretamente a qualidade de vida dos pacientes e pode interagir com outras condições preexistentes. Pacientes com apneia têm comprovadamente um maior risco de ter depressão e ansiedade. Ou, se já apresentam os sintomas, podem ter o quadro agravado. A apneia também aumenta o risco de problemas cardiovasculares e, em pessoas que apresentam quadros mais graves, aumenta em quatro vezes a probabilidade de óbito.