Pesquisa aponta motivo por trás do pescoço longo das girafas
A característica pode estar relacionada às necessidades nutricionais específicas das fêmeas
Por que as girafas têm pescoços longos? Essa é uma pergunta feita há muito tempo. Nas teorias evolutivas clássicas, tanto de Charles Darwin quanto de Jean Baptiste Lamarck, as principais hipóteses sugeriam que o membro ganhou as proporções avantajadas para ajudar a espécie a alcançar folhas mais altas, evitando a competição com outros herbívoros. No entanto, uma teoria mais recente indica que a evolução dos pescoços foi impulsionada por outro tipo de competição: a das girafas machos pelas melhores parceiras sexuais. Em duelos pelas fêmeas, os machos balançam seus pescoços uns contra os outros para afirmar sua potência e superioridade. Ou seja, pescoços mais longos poderiam ser uma vantagem competitiva na busca por acasalamento, levando à reprodução e à transmissão dos genes aos descendentes.
Um estudo recente, porém, liderado por biólogos da Penn State, sugere que a característica pode ser mais relacionada às fêmeas que aos machos. De acordo com a pesquisa, as necessidades nutricionais femininas podem ter sido fator determinante para a evolução desta característica. Os pesquisadores analisaram, a partir de um banco de dados composto por milhares de fotos, as proporções corporais de girafas selvagens e em cativeiro e apontam que o comprimento do pescoço pode ser reflexo dos hábitos alimentares femininos, majoritariamente voltado para folhas de árvores específicas que de outra forma seriam difíceis de alcançar.
Devido à dificuldade de medir a altura total a partir de fotografias sem referências conhecidas, os cientistas focaram nas medidas proporcionais, como a relação entre o comprimento do pescoço e a altura total do animal. Somente imagens que atendiam a critérios rigorosos, como ângulo perpendicular à câmara, foram utilizadas, a fim de garantir a consistência das medições.
Diferenças Proporcionais e Pressões Evolutivas
A análise revelou que girafas masculinas e femininas têm proporções corporais semelhantes ao nascer, embora os machos cresçam mais rapidamente no primeiro ano de vida. Diferenças significativas nas proporções só surgem quando as girafas se aproximam da maturidade sexual, por volta dos três anos de idade. Nos adultos, as fêmeas possuem pescoços e troncos proporcionalmente mais longos, enquanto os machos têm pernas dianteiras mais longas e pescoços mais largos.
Essas diferenças refletem adaptações funcionais e comportamentais. As fêmeas, ao forragearem, frequentemente inserem seus pescoços mais longos profundamente nas árvores para alcançar folhas inacessíveis a outros animais. Isso alimenta a hipótese de que a necessidade nutricional aumentada, especialmente durante a gestação e a amamentação, pode ter impulsionado esta característica.
Em contraste, a seleção sexual parece ter um papel significativo na evolução dos pescoços mais largos e das pernas dianteiras mais longas nos machos. Comportamentos como “necking” (luta com o pescoço) e a preferência das fêmeas por parceiros maiores podem ter contribuído para essas características. Além disso, as pernas dianteiras mais longas podem auxiliar os machos durante o acasalamento, um processo breve e desafiador raramente observado.
O estudo destaca a importância de entender as pressões evolutivas e ecológicas que moldam as características físicas dos animais. A conservação do habitat das girafas Masai, cujas populações têm diminuído rapidamente, é essencial para garantir a sobrevivência da espécie. Pesquisas genéticas adicionais estão sendo conduzidas para identificar relações de parentesco em grupos selvagens, ajudando a compreender melhor a seleção sexual e a escolha de parceiros, bem como a orientar estratégias de conservação mais eficazes.