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As lições de um estudo sobre os Pergaminhos do Mar Morto

Pesquisadores do MIT examinam o tesouro histórico e concluem que os antigos têm muito a ensinar sobre preservação de documentos

Por Kátia Mello
Atualizado em 13 set 2019, 10h36 - Publicado em 13 set 2019, 06h30

Quando um grupo de beduínos que vagava nas cercanias do Mar Morto topou com rolos de papiro dentro de vasos de cerâmica guardados em cavernas, em 1947, deu-se um belo salto histórico: encontrara-se o mais antigo registro de que se tem notícia de textos bíblicos, escritos entre 150 a.C e 68 d.C. Ali se anunciava uma das mais relevantes descobertas arqueológicas do século XXI, cujo conjunto se completaria seis anos mais tarde, formando uma coleção de 930 fragmentos que percorrem quase todo o Antigo Testamento. Pois a riqueza proporcionada pelos Pergaminhos do Mar Morto, como são conhecidos, não parou por aí. Na sexta-feira 6, a prestigiada revista Science Advances divulgou o resultado de uma pesquisa que mergulhou fundo no material exposto no Museu de Israel, em Jerusalém, para entender como sobreviveu ao tempo. É um trabalho vital. “Conhecer sua técnica de conservação pode ser determinante para preservar muitos documentos”, diz o professor André Chevitarese, do Instituto de História da UFRJ.

A empreitada de cavoucar os papiros atrás de sua composição foi liderada pelo professor de engenharia Admir Masic, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT. À base de raios X e infravermelhos, foi possível dissecar o Pergaminho do Templo, de um marfim brilhante que se destacava em meio aos outros e que, por isso, interessou tanto aos cientistas. “Este é provavelmente o mais bonito e bem preservado de todos”, observou Masic. Ele e os colegas desvendaram uma a uma as três camadas do manuscrito de 0,1 milímetro de espessura e 8 metros de comprimento. À primeira, feita de pele de animais depois de extraídos pelos e gordura, em um processo semelhante ao da produção do couro, segue-se uma cobertura de colágeno. O segredo mesmo, constataram os especialistas, reside na derradeira camada. Uma mescla de sal em elevadas concentrações (curiosamente, não o do Mar Morto) com minerais como cálcio e enxofre ajudou a proteger o papiro, durante esses milhares de anos, da ação corrosiva de microrganismos que poderiam ter desintegrado o tecido. Também ficou claro que a baixa umidade da região onde os pergaminhos repousavam contribuiu para sua sobrevivência.

PERGAMINHO – Uma eficaz mistura de minerais protegeu os documentos contra ações corrosivas (//Reprodução)

Sob constante ameaça de terem seu território invadido, os essênios, membros de uma seita judaica à qual é atribuída a autoria da coleção, miravam justamente a preservação de sua herança religiosa e cultural — no que foram muito bem-sucedidos. Eles seriam dizimados pelos romanos, mas antes distribuíram os manuscritos por onze cavernas em Qumran, na Cisjordânia. É interessante notar que a Bíblia hebraica, escrita 1 000 anos depois (e até hoje usada), pouco difere de sua versão mais ancestral, achada naquelas grutas e que traz agora à humanidade conhecimento de suma importância para a civilização judaico-cristã.

Publicado em VEJA de 18 de setembro de 2019, edição nº 2652

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