Em novembro de 2021, um acordo considerado histórico foi firmado entre os governantes de países detentores de florestas. O evento foi convocado por Boris Johnson, então primeiro-ministro britânico, durante a COP 26, principal conferência internacional sobre meio ambiente. O compromisso incluía desde países como Canadá e Rússia, com suas florestas coníferas, até Brasil, Colômbia, República Democrática do Congo e Indonésia, com vastas extensões de florestas tropicais. Mais de 100 líderes se comprometeram a deter e reverter a perda florestal e a degradação da terra até 2030. Juntos, eles representavam quase 85% das das áreas florestais em todo o mundo, o que significa mais de 21 milhões de quilômetros quadrados de mata.
De lá para cá a discussão sobre a importância das árvores para a contenção das mudanças climáticas e dos efeitos catastróficos do efeito estufa não arrefeceu. No entanto, o cumprimento do acordo que mudaria a sorte das florestas globais parece cada dia mais distante das metas miradas naquela já longínqua COP 26 e o relatório da Global Forest Watch, divulgado nesta terça-feira, 27, não traz boas notícias. Com base em dados obtidos a partir de imagens de satélite, foi possível constatar aumentos significativos nos índices de devastação de florestas primárias, ou seja, aquelas que têm uma relação com o seu ecossistema bem mais complexa do que uma floresta já alterada. Somente na região dos trópicos, onde ficam as grande florestas tropicais úmidas, como a Amazônia, houve um aumento de 10% na perda de florestas primárias de 2021 para 2022. Isso significa que aproximadamente 4,1 milhões de hectares de mata virgem deixaram de existir em um ano, o equivalente a 11 campos de futebol perdidos por minuto.
Tamanha destruição tem um líder de peso: o Brasil, que embora detenha cerca de 30% da área florestal do mundo, respondeu por quase metade do desmatamento global, ostentando o índice de 43% da área florestal desmatada em todo o planeta. “Os dados mostram que a participação do Brasil na perda de florestas tropicais vem aumentando nos últimos anos”, diz Jefferson Ferreira-Ferreira, coordenador de Ciência de Dados de Florestas do WRI Brasil. “Antes de 2015, cerca de 25% a 30% da perda ocorria no Brasil. Já em 2022, passou de 40%”.
Apesar de líder isolado, o País não foi o único protagonista da destruição. No pódio também estão República Democrática do Congo, Bolívia e Gana. Apenas Malásia e Indonésia conseguiram manter os índices de perda florestal entre os níveis mais baixos já registrados. Nos países líderes de devastação, as florestas primárias foram devastadas por incêndios intencionais, trocadas por pastos para a criação de gados e plantio de commodities, exploração de petróleo, extração de madeira, abertura de estradas, ocupação ilegal de terras indígenas para mineração e uma série de outros fins.
De acordo com o relatório, a devastação florestal aumenta significativamente as emissões anuais de dióxido de carbono, principal responsável pelo aquecimento global. A perda total da área florestal entre 2021 e 2022, por exemplo, resultou em 2,7 gigatoneladas (Gt) dióxido de carbono na atmosfera, número equivalente às emissões anuais de combustíveis fósseis da Índia. Além disso, o desmatamento pode impactar o regime global de chuvas, o que, em última instância, pode chegar a níveis irreversíveis. Isso resultaria no aumento de áreas desérticas e na conversão da maior parte das florestas da Amazônia Ocidental, incluindo a Amazônia brasileira, em savana.