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Ossos de bebê do Paleolítico revelam vida difícil dos ancestrais humanos

A criança pouco desenvolvida viveu há 17.000 anos, durante a pior fase da Era Glacial

Por Marília Monitchele Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 out 2024, 11h08 - Publicado em 28 out 2024, 16h00

Em 1998, na caverna Grotta delle Mura em Monopoli, na região da Apúlia, ao sul da Itália, o arqueólogo Mauro Calattini fez uma descoberta única: os ossos de um bebê cobertos cuidadosamente por pedras. Batizado de “Le Mura 1,” esse bebê viveu há cerca de 17 mil anos, logo após o Último Máximo Glacial, período mais carregado de gelo da Terra, quando as geleiras cobriram um quarto das terras do planeta. Agora, uma recente análise genética dessa criança revelou detalhes fascinantes sobre as condições de vida e as características físicas dos primeiros habitantes da península italiana.

Um estudo publicado na Nature Communications documentou em detalhe o desenvolvimento desse ancestral, que faleceu com aproximadamente 1 ano e meio de idade. Técnicas avançadas de datação por radiocarbono, análises dentárias e sequenciamento genético permitiram aos cientistas recuperar 75% de seu genoma — um feito raro para ossadas tão antigas.

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Os estudos dentários, por exemplo, mostram que o pequenino passou por momentos significativos de estresse fisiológico ainda no útero e nos primeiros meses de vida. A situação precária, permanentemente registrada no esmalte dentário, levanta questões sobre a saúde da mãe e as dificuldades de sobrevivência no período glacial. Isótopos nos dentes sugerem que sua mãe ficou em uma área precária e de poucos recursos durante a gravidez, o que a deixou desnutrida. Além disso, uma fratura encontrada na clavícula do bebê, sugere um parto doloroso e difícil.

Geneticamente, Le Mura 1 apresenta uma combinação peculiar de características físicas: olhos azuis, pele escura e cabelo cacheado, traços comuns entre os caçadores-coletores ocidentais. Os pesquisadores identificaram também um alto grau de endogamia, sugerindo que os pais do bebê eram parentes próximos, o que costuma ser comum em pequenos grupos isolados. Esta consanguinidade pode ter contribuído para alguns desafios de saúde, como uma condição cardíaca congênita. De acordo com o estudo, o bebê morreu de cardiomiopatia hipertrófica familiar, uma condição hereditária que faz o músculo cardíaco engrossar, o que pode causar insuficiência cardíaca congestiva fatal.

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O genoma de Le Mura 1 revela também uma conexão com os primeiros grupos humanos que migraram para o sul da Europa, buscando refúgio das condições gélidas do continente. Essa descoberta reforça a ideia de que a península italiana desempenhou um papel crucial como ponto de abrigo e dispersão de diversos grupos populacionais durante o final da última Era do Gelo. O achado, portanto, é importante para ampliar o que sabemos sobre o fluxo de genes na Europa e os desafios da sobrevivência na pré-história humana.

As análises destacam o quanto as antigas populações humanas eram resilientes em meio a mudanças climáticas extremas e como esses ancestrais moldaram a diversidade genética na Europa. O bebê Le Mura 1 é mais do que um esqueleto; ele representa uma peça de um vasto quebra-cabeça da história humana.

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