Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Os riscos do implante hormonal para as mulheres

Indicado para problemas associados à menstruação, o procedimento tem sido procurado por seus efeitos estéticos — uso que os médicos condenam

Por Leticia Passos
Atualizado em 20 dez 2019, 10h19 - Publicado em 20 dez 2019, 06h00

A proposta parece irresistível para as mulheres. Um procedimento médico capaz de interromper, ou ao menos mitigar, os sintomas associados à menstruação, como a dor de cabeça e a cólica. Uma terapia afeita a tonificar o corpo, aumentar a disposição e incrementar a libido. Trata-se do implante hormonal — ou “chip” da beleza, em seu exagerado apelido. É um recurso que virou febre no Brasil, nos últimos meses, desde que usuárias famosas como as atrizes Deborah Secco, Bruna Marquezine e Letícia Birk­heuer e a apresentadora Adriane Galisteu saíram por aí, nas redes sociais, badalando a intervenção.

O chip, na verdade, não é um chip. É um tubinho fino de silicone, com cerca de 4 centímetros de comprimento. Sua colocação é simples, com anestesia local e uma microincisão na região das nádegas ou no braço. Custa 3 000 reais e tem validade de seis meses a um ano — depois, é preciso trocá-lo. Não dói e pode ser retirado a qualquer momento. Os efeitos “milagrosos”, digamos assim, e ter a expressão entre aspas é compulsório, são decorrentes dos hormônios liberados pelo dispositivo. O principal deles é a gestrinona. No corpo feminino, ela inibe a ovulação e ainda estimula a ação de outro hormônio, a testosterona (veja o quadro). Conhecida por “comandar” o corpo masculino, a testosterona também está naturalmente presente no organismo da mulher. Em ambos os sexos, o composto está envolvido na produção de ossos, massa muscular, oleosidade da pele e na estimulação da libido. No sexo masculino, a produção natural é cerca de trinta vezes maior do que no feminino. Isso explica por que os homens são em geral mais fortes e mais peludos e têm a voz mais grossa, por exemplo. Para elas, o hormônio tem a função primordial de auxiliar o processo de reprodução. Mas níveis altos de testosterona alimentam, paralelamente, outro efeito: o vigor físico, e é isso que tem provocado interesse e entusiasmo. Aos 59 anos, a empresária paulista Eliana Guazzelli Pereira teve aplacadas as ondas de calor, a mudança de humor e a insônia atreladas à menopausa. Dois meses depois, vieram outras respostas: pele e músculos mais firmes. “Minha qualidade de vida mudou, e não pretendo tirar mais o dispositivo”, diz ela.

As promessas são muitas e, aparentemente, inescapáveis. Mas convém ter cautela. O implante provoca efeitos colaterais ruins, segundo entidades médicas respeitadas — e eles podem ser mais numerosos que os positivos. Não há, ainda, estudo conclusivo que associe diretamente o uso do implante a problemas de saúde, e por isso ele não é vetado. A resistência de muitos especialistas tem base em trabalhos que já relacionaram o excesso de testosterona com cânceres. Estudo conduzido pela Universidade Harvard mostrou que a aplicação do hormônio em mulheres na menopausa resultou em risco duas vezes maior de desenvolver tumor de mama. Diz o oncologista Gilberto Amorim, da Rede D’Or: “A testosterona extra pode estimular o crescimento desordenado das células mamárias, deflagrando o câncer”. Há uma agravante: a manipulação é feita em farmácias, sem o rigor necessário.

Some-se, ainda, uma confusão típica dos tempos de culto ao corpo: muitas mulheres foram atraídas pelos resultados estéticos do implante, e não porque tivessem alguma deficiên­cia hormonal. “O uso do medicamento por pessoas que não tenham problemas hormonais é contraindicado”, diz Alexandre Hohl, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Em nota, o Conselho Federal de Medicina declarou que “tratamentos do tipo só devem ser feitos por razões médicas”. Fica o alerta.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 25 de dezembro de 2019, edição nº 2666

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.