Um terremoto de magnitude 7,8 atingiu grandes áreas da Turquia e da Síria na manhã desta segunda-feira, 6, derrubando centenas de prédios em cidades de ambos os países e matando quase 2.000 pessoas. Acredita-se que o número de sismos e de vítimas aumente. O epicentro do maior tremor fica ao norte da capital da província turca de Gaziantep. Uma tragédia com raros e tristes precedentes no mundo.
Mas o que significa um terremoto ter magnitude 7,8? A maioria das escalas — há várias delas, atualmente — é baseada na amplitude das ondas sísmicas registradas em sismômetros. Elas representam a distância entre o terremoto e o sismômetro de registro, de modo que a magnitude calculada deve ser aproximadamente a mesma, não importa onde seja medida. Há também medidas de intensidade de tremores, que varia muito de um lugar para outro.
Coordenador do Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Aderson Nascimento explica que a escala mais conhecida para medir a potência desses eventos sismológicos é a Richter, criada em 1935, nos Estados Unidos. A ideia do cientista americano Charles Richter era ter uma medida rápida e expedita dessas ocorrências. “Então, ele copiou dos astrônomos uma forma de medir a potência das estrelas, adaptou-a para fenômenos geológicos e a calibrou para a Califórnia”, disse a VEJA o sismólogo “Em outros locais ela não era tão boa.”
Resultado: embora tenha sido consagrada pelo uso, a Richter possui algumas deficiências e nem sempre é utilizada. Entre os anos de 1960 e 1970, os sismólogos começaram a divisar outras formas de medir com mais precisão os eventos geológicos. A Escala e Magnitude de Momento (abreviada como MMS e denotada como MW), foi introduzida em 1979 por Thomas Haks e Hiroo Kanamori. “Essa escala mede mais precisamente a energia liberada no solo e o alcance dela”, diz Nascimento. “Hoje, é a mais usada pelas agências de todo o mundo. embora muita gente ainda pense se tratar da Richter.”
As estimativas de magnitude de momento são aproximadamente as mesmas que as magnitudes de Richter para terremotos pequenos a grandes. Mas apenas a MMS é capaz de medir M8 (leia-se “magnitude 8”) e eventos maiores com precisão, de acordo com a Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Magnitudes são baseadas em uma escala logarítmica. Isso significa que, para cada número inteiro, a amplitude do movimento do solo registrada por um sismógrafo aumenta exponencialmente. “Um terremoto de grau 8 libera 32 vezes mais energia do que um de grau 7”, explica Nascimento.
Um terremoto de magnitude 6, por exemplo, libera a energia de uma bomba atômica, segundo o sismólogo Bruno Collaço, do Centro de Sismologia da USP, em São Paulo. Segundo ele, o terremoto da Turquia se originou 18 quilômetros abaixo do epicentro, na província de Gaziantep, o que é considerado raso para os geólogos. “E quanto mais próximo da superfície o ponto do sismo, pior é o terremoto”, disse ele a VEJA.
No Brasil, as chances de um evento como o que aconteceu na Turquia, Síria e países vizinhos é bem pequena. O país não abriga limites entre placas tectônicas – que quando se mexem devido a algum evento subterrâneo provocam os terremotos. “O Brasil está no centro da placa sul-americana, com um limite a leste no meio do Atlântico e outro a leste no Chile e Colômbia”, disse Collaço. “A região da Turquia onde aconteceu o terremoto já está no entroncamento de três placas, o que aumenta a chance de eventos sismográficos de grande magnitude.”
No entanto, alerta o especialista da UFRN, é preciso estar atento. “Nos últimos 300 anos, o Brasil teve apenas dois grandes eventos, um no mar e outro no Mato Grosso, na década de 1950”, explicou Nascimento. “Em geral, acontecem terremotos de intensidade 4 e 5 a cada cinco anos em média. Mas isso também está associado ao local onde acontecem, se são em áreas de alta densidade urbana ou não. De qualquer forma, é preciso sempre estar atento.”