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O que a gravidez dizia sobre poder e medo entre os vikings

Corpos grávidos inspiravam medo e respeito entre os vikings, mas quase não aparecem em sepultamentos, sugerindo um sistema de exclusão simbólica

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 Maio 2025, 18h30

Ao contrário da ideia de que a gravidez era um tema exclusivamente íntimo ou invisível, as sociedades vikings atribuíram à gestação um conjunto complexo de significados. Um estudo publicado no periódico Cambridge Archaeological Journal analisou textos medievais, achados arqueológicos e registros funerários para investigar como os corpos grávidos eram entendidos entre os séculos VIII e XI. A pesquisa revela que a gravidez estava longe de ser neutra ou apenas biológica — ela atravessava relações de poder, linhagem e violência.

Nos textos nórdicos, mulheres grávidas aparecem descritas com termos que misturam observações físicas e julgamentos simbólicos. Expressões como “inchada”, “pesada”, “não inteira” e “doente” sugerem que a gestação era vista como um estado de desconforto e vulnerabilidade. Por outro lado, frases como “mulher que não caminha sozinha” indicam que o feto podia ser entendido como uma presença autônoma, com status próprio. Em algumas narrativas, o bebê ainda no ventre já fazia parte de tramas de vingança e alianças familiares — o que reforça a ideia de que o corpo grávido era politicamente significativo.

Grávidas podiam ser guerreiras?

A ligação entre gravidez e poder também aparece em registros visuais. Os autores destacam um artefato raro: uma pequena estatueta de prata, encontrada na Suécia, que representa uma figura com o ventre saliente, os braços envolvendo a barriga e um possível capacete com proteção nasal. Trata-se da única representação convincente de uma mulher grávida no período viking.

O objeto foi encontrado em uma tumba feminina cercada por elementos ligados à magia e à autoridade simbólica, como um bastão de ferro e outros pingentes ritualísticos. Para os pesquisadores, a presença de um possível capacete nesse contexto sugere que o corpo gestante podia ser associado à força, resistência e agência. A imagem desafia a ideia de que gravidez e passividade caminham juntas.

Por que faltam túmulos de grávidas?

Mesmo com as evidências literárias e visuais, os corpos gestantes são praticamente ausentes dos registros funerários. Entre milhares de túmulos escavados na Escandinávia e em regiões influenciadas pela cultura viking, os pesquisadores identificaram apenas 14 casos com restos mortais de mulheres e fetos. Em alguns enterros, recém-nascidos foram enterrados com homens ou mulheres idosas, o que sugere que os vínculos entre adultos e bebês nem sempre seguiam critérios biológicos.

A escassez de sepultamentos conjuntos entre mães e filhos levou os autores a considerar que os corpos grávidos foram intencionalmente ausentados do registro arqueológico — seja por práticas funerárias distintas, seja por uma lógica de invisibilização. O estudo propõe que essa ausência reflete uma “política de apagamento” do corpo gestante: mesmo sendo essencial para a reprodução social, ele foi marginalizado nos registros simbólicos e materiais, assim como em parte da historiografia.

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