Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Vikings tomam conta da cultura pop, mas ainda cercados de estereótipos

Descobertas arqueológicas mostram, por exemplo, que eles não eram tão violentos assim

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 mar 2022, 08h00

Cristalizada no imaginário popular, a visão do viking como um guerreiro bruto e selvagem, navegador hábil e saqueador impiedoso foi construída ao longo de séculos e reproduzida em livros, filmes, séries, quadrinhos e videogames. Há até fantasias de Carnaval compostas do famoso capacete ornamentado com chifres, que por sinal tem origem nos figurinos de uma montagem de 1876 da ópera O Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner, inspirada na mitologia nórdica. Ou seja, quase todo mundo já ouviu falar deles, de uma maneira ou de outra. Mas, assim como o folclórico chapéu com cornos, há muitos falsos conceitos envolvendo o ancestral povo do Norte. As tolices continuam a ser repetidas incessantemente.

VINGANÇA - O Homem do Norte, de Robert Eggers: lenda nórdica inspirou filme -
VINGANÇA - O Homem do Norte, de Robert Eggers: lenda nórdica inspirou filme – (New Regency Productions/.)

Não por acaso, e talvez agora com uma interpretação mais adequada, uma nova onda viking tomou de assalto a indústria do entretenimento. Na Netflix, estreou recentemente Vikings: Valhalla, spin-off da consagrada série Viking. A história é inspirada em um personagem fascinante, o rei Ragnar Lothbrok, que teria vivido entre os séculos VIII e IX, na Suécia e Dinamarca. Não há evidências de que tenha existido, o que o transformou em uma figura ainda mais saborosa, tanto para a série quanto para a coleção de livros Crônicas Saxônicas, de Bernard Cornwell. Em abril, os cinemas exibirão O Homem do Norte. O diretor Robert Eggers também bebeu das andanças mitológicas de Loth­brok. No filme, o príncipe viking Amleth busca a vingança pelo assassinato de seu pai — a semelhança com o Hamlet, de Shakespeare, não é coincidência. No mundo dos games, a temática é responsável por sucessos estrondosos como Assassin’s Creed: Val­halla, um dos jogos mais vendidos da história, calcado no Grande Exército Pagão, formado por guerreiros dinamarqueses e noruegueses que em 865 invadiram o que é hoje o território da Inglaterra. Outro blockbuster estrondoso é Valheim, com 4 milhões de cópias negociadas no Steam, serviço de venda de jogos digitais. Lançado há apenas um ano, Valheim já está entre os preferidos dos usuários.

MITOLOGIA - Valheim: o game vendeu 4 milhões de cópias e tem 500 000 usuários -
MITOLOGIA - Valheim: o game vendeu 4 milhões de cópias e tem 500 000 usuários – (Iron Gate Studio/.)

Por que, afinal, os vikings exercem tanto fascínio? De 793 a 1066, a Era Viking transformou o mundo nórdico. Sem se organizar em um estado, os povos da Escandinávia percorreram a Europa, partes da Ásia, da África e até da América do Norte — cinco séculos antes de Cristóvão Colombo desembarcar no Caribe. Pequenas nações independentes que acabariam se tornando Noruega, Suécia e Dinamarca, os povos do Norte compartilhavam culturas e estilos de vida parecidos, embora as línguas tivessem diferenças. Suas crenças tradicionais, no entanto, acabaram sendo, com o tempo, subordinadas ao cristianismo.

Continua após a publicidade

arte vikings

O imaginário dos vikings foi delineado a partir dos relatos dos agredidos. Foi só no século XII que os islandeses registraram um generoso pacote de textos poéticos e em prosa, as Eddas, que descrevem o panteão dos deuses nórdicos e germânicos. Daí tomaram forma Odin, Thor e Loki, que remetem aos personagens da Marvel, variações muito higienizadas de seus originais.

Em quase todas essas recriações, prevalece o perfil do viking bombado, cabeludo, branco e de olhos azuis. O estereótipo, que na primeira metade do século XX foi apropriado pelos nazistas para justificar o arianismo, foi derrubado por estudos arqueológicos. Eles mostraram que os nórdicos eram um povo diverso, cujas explorações e conquistas contribuíram para misturar sua assinatura genética. A ideia de que eram bárbaros pagãos e violentos, com seus dracares que se transformavam em esquifes em chamas para seus mortos, também está longe de ser uma verdade absoluta. Para além dos clichês, há alguma verdade nesses relatos, escreve o professor Neil Price no livro Vikings: a História Definitiva dos Povos do Norte (Criativa): “Mas os escandinavos também exportaram novas ideias, tecnologias, crenças e práticas para as terras que descobriram e os povos que encontraram”. A história sempre ensina. Por isso, é fundamental voltar a ela, sem parar.

Publicado em VEJA de 9 de março de 2022, edição nº 2779

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.