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O futuro no passado

A descoberta de fósseis do dia em que um meteoro atingiu a Terra, há 66 milhões de anos, lança luz sobre as consequências da colisão, que mudou o planeta

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 16h33 - Publicado em 12 abr 2019, 07h00
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  • FIM DO MUNDO - Ilustração usada no artigo sobre a pesquisa: após o choque, violentos tsunamis atingiram várias espécies (//Divulgação)

    Foi tudo muito rápido — e avassalador. Quando, há 66 milhões de anos, um asteroide de 12 quilômetros de diâmetro atingiu a Terra em um ponto do Oceano Atlântico, perto da atual Península de Iucatã, na costa do México, o planeta experimentou o que poderia ser o prenúncio do fim. O impacto provocou incêndios, terremotos e tsunamis violentíssimos, que logo afetaram regiões localizadas a milhares de quilômetros de distância.

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    A colisão, aventada pela primeira vez na década de 80, acabaria por obliterar cerca de 75% da flora e da fauna de então, incluindo os dinossauros, répteis monumentais que, à época, dominavam o mundo. Com o choque, uma infinidade de criaturas marinhas foi arrastada por ondas gigantescas e atirada à superfície terrestre, onde se misturou a peixes de água doce — cuspidos de lagos e rios —, a outras espécies, ao barro, ao caos.

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    Um extraordinário sítio arqueológico situado nos Estados Unidos e formado por todo esse material fossilizado acaba de ser revelado por um grupo de doze cientistas de diferentes universidades americanas e europeias. A descoberta está lançando novas luzes sobre aquele que foi, sem dúvida, um dia histórico para a Terra — e, acima de tudo, sobre suas conse­quên­cias, que a levariam a se tornar o planeta dos humanos.

    Em um artigo publicado na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences, os pesquisadores afirmam haver encontrado no tal sítio, denominado Tanis, em Dakota do Norte, fósseis que têm sua origem no dia exato do impacto. O local fica a 3 500 quilômetros do ponto onde o meteoro teria atingido o globo, abrindo a submersa cratera de Chicxulub. Segundo Phillip Manning, coautor da pesquisa e professor de história natural na Universidade de Manchester, na Inglaterra, a imagem de nosso planeta imediatamente após a colisão se assemelharia à do interior de uma barulhenta e agitada máquina de lavar roupa — até que uma repentina calmaria fez com que tudo assentasse. Depois de milhões de anos, os despojos se transformaram em rochas, que mantiveram os fósseis intactos.

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    Arqueologia
    MUSEU NATURAL - Peixe fossilizado encontrado em Dakota do Norte: preservado (//Divulgação)

    A certeza dos cientistas de que todo aquele material data precisamente do dia em que o asteroide se chocou com a Terra está baseada em evidências concretas. O primeiro indício foi a constatação de que os fósseis estavam cobertos de irídio, metal muito mais comum em meteoros do que no solo terrestre. A segunda pista veio do fato de que as guelras dos peixes encontrados em Tanis estavam repletas de tectitos, minúsculas pedras de vidro que teriam “chovido” dos céus após a colisão. A terceira — e mais contundente — das evidências surgiu porque os cientistas descobriram lado a lado no sítio arqueológico de Dakota muitos exemplares fossilizados de animais e vegetais que só existiam em áreas distintas — e distantes. Assim, a única explicação para que estivessem reunidos naquele lugar seria terem chegado lá por meio de ondas como aquelas que se formaram em decorrência do impacto do asteroide contra o globo.

    A nova descoberta é resultado de um demorado trabalho de investigação. Robert DePalma, curador de paleontologia do Museu de História Natural de Palm Beach, na Flórida, e o principal autor do estudo recém-­divulgado, está explorando Tanis desde 2012. No entanto, só agora considerou haver encontrado os elementos mais importantes de sua pesquisa: ossos de vários grupos de dinossauros. O peso desse achado deve-se ao seguinte: apesar da frequente associação feita por cientistas entre a colisão do meteoro com o nosso planeta e a extinção daqueles répteis, faltava um elo mais direto entre os dois eventos.

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    É claro que não se deve imaginar que todos os exemplares de dinossauro espalhados pela Terra tenham desaparecido ao mesmo tempo em razão da colisão com o asteroide. O impacto do evento sobre eles teria sido sobretudo indireto — em razão, isso sim, das consequências da catástrofe. O choque teria levantado uma quantidade enorme de fuligem, suficiente para bloquear os raios solares. Resultado: além de derrubar a temperatura no planeta, essa situação teria prejudicado o desenvolvimento das plantas, desequilibrando toda a cadeia alimentar que mantinha os dinossauros vivos. Há ainda outras hipóteses para o desaparecimento daqueles répteis, como fortíssimas erupções vulcânicas.

    Em entrevista a VEJA, David Burn­ham, coautor do estudo encabeçado por Robert DePalma e professor de geo­logia da Universidade do Kansas, disse que a exploração em Dakota do Norte “nos permite analisar, por exemplo, os meios pelos quais os mamíferos sobreviveram ao choque do meteoro com a Terra — e o porquê de tantas espécies não terem tido a mesma sorte”. A teoria é que, enquanto os grandes répteis comandavam o ambiente global, o número de mamíferos era reduzido — acredita-se que só existissem os terrestres — e eles não se atreviam a sair à luz do dia, temendo os predadores. A extinção dos dinossauros teria sido o primeiro passo para que os mamíferos se espalhassem e evoluíssem — até que um de seus representantes, o Homo sapiens, surgido há 300 000 anos, dominasse o planeta. Assim, quando, 66 milhões de anos atrás, a Terra foi atingida por um gigantesco asteroide, ela não experimentou apenas o que poderia ser o prenúncio do fim. Aquele também foi o primeiro dia do seu futuro.

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    Publicado em VEJA de 17 de abril de 2019, edição nº 2630

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