Há duas décadas, eram comuns as campanhas que visavam preservar a água potável – desligar a torneira ao escovar os dentes, lavar o carro com balde, varrer as calçadas, cronometrar o banho. Nos últimos anos esse movimento todo foi substituído, em favor da tentativa de solucionar problemas que tem soado como mais urgentes, como as emissões de gases do efeito estufa e o consequente aquecimento global. A realidade, no entanto, é que o problema da água continua sem solução. A preocupação é tamanha que reuniu pesquisadores da Nasa, diplomatas das Américas e técnicos de cinco países diferentes em torno da Bacia Platina, uma das cinco maiores reservas hidrográficas do mundo.
Fechado apenas para os convidados, o II Workshop da Bacia do Rio Prata aconteceu no início de março, em Foz do Iguaçu, e teve como objetivo compartilhar estratégias de monitoramento fluvial e compreensão dos sistemas globais. “As mudanças climáticas estão deixando tudo mais difícil”, diz Thomas Hastings, Chefe Interino da Missão Permanente dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA), em entrevista a VEJA. “Um rio é importante para o consumo de água, mas também para para o transporte, para a geração de energia e para a irrigação. Balancear esses usos já era difícil, mas a atual imprevisibilidade das secas e das cheias impõe um novo desafio.”
Qual foi o objetivo da reunião?
A ideia do projeto foi justamente compartilhar ferramentas que tentam tornar esse monitoramento mais previsível. A maior parte dos satélites brasileiros foi lançada com o objetivo de monitoramento terrestre e a Nasa, por sua vez, conta com mais de 20 satélites de monitoramento aquático. “Nossa tendência é fazer esse monitoramento do espaço, mas nós também sabemos da importância de integrar e validar esses dados com as informações coletadas em terra”, afirma Robert Swap, da divisão de sistemas terrestres da Nasa. “A ideia é coletar essa informação e entregar para a sociedade civil e para os tomadores de decisão.”
Parte do que eles fizeram foi treinar os técnicos brasileiros, uruguaios, argentinos e paraguaios para a utilização do Sistema de Informações Terrestres, um programa desenvolvido pela Nasa para integrar informações espaciais e de campo e ajudar na administração desses sistemas aquáticos. “Nós trabalhamos com engenheiros militares americanos para tentar compreender o Delta do Mississipi, por exemplo, mas a vazão não é tão grande como a daqui”, diz Swap. “Então criamos esses workshops para entender como ele pode ser complementado.”
Esse é o segundo de uma série de três workshops. O primeiro aconteceu em novembro de 2022, em Buenos Aires, mas a segunda edição, que também contou com uma visita técnica à usina hidrelétrica de Itaipu, de acordo com os participantes, foi mais produtiva e direta, pois os participantes já estavam mais integrados entre si. A data e o local do próximo ainda não foram confirmadas, mas há grandes chances de ocorrerem no Brasil, novamente.
‘A mensagem que fica é que, quando nós focamos na missão e reunimos pessoas que estão focadas e que entendem do assunto, coisas muito boas podem acontecer. Estou muito otimista”, diz Swap