Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Novas descobertas arqueológicas trazem revelações sobre região amazônica

No passado remoto, a área foi densamente povoada, com cidades complexas e conectadas entre si

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h00 - Publicado em 25 set 2022, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • MATA VIRGEM - Bacia do Xingu: a configuração atual da floresta é resultado direto da ação humana -
    MATA VIRGEM - Bacia do Xingu: a configuração atual da floresta é resultado direto da ação humana – (Mark Fox/Getty Images)

    Até hoje, os livros didáticos insistem em estabelecer que o início da história do Brasil se deu com a chegada dos europeus, em 1500. Por essa visão, foi só após o desembarque dos portugueses que aquela “terra selvagem” — para usar a expressão consagrada nos cânones educativos — começou a ser desbravada com a criação de cidades e a expansão progressiva mata adentro até a Amazônia, no extremo norte do país. Nada poderia estar mais distante da realidade. Não apenas a Amazônia foi densamente povoada muito antes da invasão europeia como a sua atual configuração deve-se à ação do homem durante milhões de anos. Para ficar mais claro: a monumental floresta que conhecemos é consequência direta do trabalho dos povos que lá viveram.

    Essas são algumas das descobertas descritas no livro Sob os Tempos do Equinócio: Oito mil Anos de História na Amazônia Central (Editora Ubu), do arqueólogo Eduardo Góes Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Durante quinze anos, com o apoio de uma equipe numerosa, ele se dedicou à escavação de sítios na Amazônia Central, e assim se tornou um dos principais pesquisadores do tema no Brasil. “Sabemos que a Amazônia é habitada há pelo menos 8 000 anos, há tanto tempo quanto em outras partes das Américas, por diferentes povos, com distintas formas de organização social e política, desde bandos nômades de caça­dores-coletores até sociedades sedentárias hierarquizadas”, afirma Neves.

    INDÍCIOS - Marcações no solo: gigantescas estruturas eram espaços sociais -
    INDÍCIOS - Marcações no solo: gigantescas estruturas eram espaços sociais – (Marcos Vicentti/Folhapress/.)

    Seus estudos concluíram que entre 8 e 10 milhões de pessoas viveram na Amazônia no período anterior à chegada dos portugueses. Ao contrário de outras civilizações americanas, a distribuição demográfica era mais ampla. Não havia metrópoles, mas inúmeras cidades menores e relativamente populosas. Um exemplo é Santarém, no atual Pará. Fundada em 1661, foi um dos primeiros municípios da região amazônica. Na ocasião, 6 000 indígenas viviam ali, população quatro vezes maior que a do Rio de Janeiro na época.

    Continua após a publicidade

    Para calcular o contingente que habitou a Amazônia, Neves baseou-se em vestígios da ocupação humana de outrora. Artefatos de pedra e cerâmica extremamente refinados, hoje guardados em museus, são alguns deles. Mas há muito mais. É o caso da terra preta, tipo de solo que indica as modificações feitas pela ação humana — são, em síntese, assentamentos de povos que fincaram raízes em determinado local. Outro exemplo é o manejo da floresta. Hoje em dia, mais da metade de todas as árvores na selva amazônia corresponde a apenas 227 espécies, o equivalente a 1,4% das 16 000 espécies conhecidas na região — isso prova, de acordo com o pesquisador, que algumas delas foram priorizados pelos humanos em detrimento de outras. “A ideia, ainda muito difundida, de uma formação florestal virgem, intocada, não corresponde à realidade”, diz Neves. “As florestas amazônicas são produtos da ação humana. O manejo criou a composição de árvores que existe hoje.”

    arte Amazônia

    Não é de hoje que a ciência se dedica ao estudo da ocupação na Amazônia. As pesquisas mais abrangentes começaram em 1970, quando um grupo de arqueólogos passou a analisar os chamados geóglifos, estruturas geo­métricas moldadas por povos indígenas com o uso de instrumentos de madeira. Desde então, foram mapeadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural ao menos 818 figuras quadrangulares e circulares com mais de 150 metros de largura. Hoje, acredita-se que tais estruturas eram espaços de socialização, um lugar para trocar conhecimento e interagir com outros povos.

    Continua após a publicidade

    Apesar dos avanços da ciência, a região amazônica é um gigantesco campo a ser explorado — no bom sentido, ressalte-se. Dada a densidade da floresta e as imensas dificuldades para acessá-la, é certo que o local oculta vestígios raros de povos antigos. “Talvez a lição mais importante trazida pela arqueologia amazônica nas últimas décadas tenha sido mostrar que não existe na região nenhuma barreira natural à ocupação humana”, escreveu Neves em seu livro. Desvendar o passado, portanto, pode ajudar as novas gerações a entender que é possível viver em harmonia com a natureza.

    Publicado em VEJA de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.