Nova tecnologia poderia tornar porções de Marte habitáveis
Estudo publicado no dia 15 sugere a construção de pequenas estufas como solução para a inospitalidade marciana
Embora muito se fale sobre a possibilidade de a espécie humana colonizar Marte, há muitos obstáculos a serem superados antes de podermos de fato ter pessoas vivendo permanentemente no Planeta Vermelho — como foi bem romantizado no blockbuster Perdido em Marte, aquele filme de 2015 (baseado em livro de mesmo nome) no qual Matt Damon interpreta um astronauta que tenta sobreviver no solo marciano.
Uma das barreiras para habitar aquele planeta é o clima marciano: em sua superfície, as temperaturas chegam a -60 graus. Além disso, a atmosfera tem uma composição muito distinta da terrestre. Enquanto a marciana é composta de gás carbônico e vapor d’água, a nossa consiste principalmente em uma mistura dos gases nitrogênio e oxigênio.
Desde a década de 70, uma das propostas que facilitariam a vida em Marte tem sido alvo de muita inspiração para os cientistas: a terraformação. Essa ideia sugere um processo de modificação da atmosfera, temperatura, topografia e ecologia do planeta, o que permitiria sua habitação por seres terráqueos.
Mesmo com a terraformação, restam algumas perguntas: quais substâncias podem ser usadas para transformar o inóspito ambiente de Marte em um local que se assemelhe à Terra? E como seria possível realizar esse processo em todo um planeta de uma só vez?
Como alternativa para contornar esses obstáculos, pesquisadores anunciaram, no periódico Nature Astronomy, uma maneira inovadora de terraformação. Os cientistas são da americana Universidade Harvard, de um laboratório da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) e da Universidade de Edimburgo, na Escócia.
A proposta é inédita porque sugere que a abordagem de terraformação, em vez de abarcar o planeta inteiro (como propunham os projetos anteriores), envolva apenas algumas regiões de Marte. De acordo com os pesquisadores, algumas porções do Planeta Vermelho podem se tornar habitáveis com o uso de um material chamado aerogel de sílica.
O aerogel de sílica é uma substância 97% porosa composta por camadas finíssimas de dióxido de silício (SiO₂), presente na areia e em rochas. A estrutura do material permite que a luz passe por suas camadas, mas dificulta a passagem de calor — isto é, faz com que as superfícies em que é aplicado funcionem como uma espécie de estufa.
A ideia, portanto, é que o calor emitido por pessoas, animais e outros seres ficasse “preso” sob tetos ou entre paredes revestidas de aerogel, tornando a região mais quente e úmida. O objetivo final dos cientistas seria criar pequenas ilhas habitáveis, protegidas pelo material, nas quais seres terráqueos pudessem viver.
Camadas de 2 ou 3 centímetros de espessura nos locais a ser habitados seriam suficientes para permitir que luz visível passasse pelo material, possibilitando a fotossíntese, ao mesmo tempo em que bloquearia a radiação UV e aumentaria as temperaturas para mais de zero grau — o que, apesar de não ser ideal para a vida humana ou para grande parte dos vegetais terrestres, representaria um grande avanço.
Por meio do uso de modelos e experimentos em que replicavam a superfície marciana, os cientistas constataram que as temperaturas da porção central de Marte poderiam tornar-se praticamente iguais às temperaturas da Terra com a utilização do aerogel. O próximo passo para a equipe será testar o dióxido de sílica em partes da Terra onde o clima lembra o do Planeta Vermelho, como os vales secos da Antártica ou do Chile.