A ideia de que plantas podem ser estimuladas pelo som de uma bela sinfonia já passou pela cabeça de muitos. O livro O Segredo das Plantas, escrito em 1973 por Christopher Bird e Peter Tompkins, foi um dos grandes divulgadores dessa crença. Nele, os autores citam estudos científicos que sugerem não só que a música ajuda as plantas a crescer, mas também que elas possuem uma espécie de consciência, capaz de responder de forma inteligente ao ambiente e às pessoas. Esse conceito se tornou tão popular que, em 2004, o programa americano MythBusters testou a teoria, descobrindo que plantas expostas tanto ao heavy metal quanto à música clássica cresceram um pouco mais do que aquelas mantidas em silêncio. No entanto, os resultados não foram conclusivos, deixando o efeito da música sobre as plantas em aberto.
Embora ainda não possamos afirmar se as plantas preferem Sabrina Carpenter ou Vivaldi, há indícios de que elas não são as únicas a “apreciar” música. Recentemente, uma equipe de cientistas descobriu que certas frequências sonoras podem acelerar o desenvolvimento de fungos, levantando a possibilidade de que a música possa ser usada no futuro para melhorar a produção de alimentos.
Inspirada por estudos que expuseram a bactéria E. coli a ondas sonoras, uma equipe de pesquisadores australianos decidiu investigar como o som afeta o crescimento e a produção de esporos do fungo Trichoderma harzianum. Este fungo é amplamente utilizado na agricultura orgânica devido à sua capacidade de proteger plantas contra patógenos, melhorar a qualidade do solo e estimular o desenvolvimento vegetal.
O estudo, realizado em condições controladas, mostrou que fungos expostos a frequências sonoras específicas cresceram mais rápido do que aqueles que não receberam estímulo sonoro. Embora a ideia de fungos “ouvindo” música seja intrigante, o que está em jogo, na verdade, são as vibrações causadas pelo som. Essas vibrações parecem alterar o comportamento celular dos fungos, estimulando seu metabolismo e acelerando o crescimento.
No entanto, não é qualquer tipo de música que faz a mágica acontecer. Os pesquisadores observaram que faixas com batidas ritmadas e frequências baixas foram as mais eficazes, enquanto sons caóticos ou muito altos não tiveram o mesmo efeito – e, em alguns casos, até prejudicaram o desenvolvimento dos fungos.
Se essas descobertas puderem ser aplicadas em larga escala, a música pode se tornar uma ferramenta inovadora na agricultura, ajudando a aumentar a produção de fungos comestíveis ou até mesmo de espécies usadas na fabricação de medicamentos pela indústria farmacêutica. Sem contar o impacto na produção de alimentos, dada a relação do Trichoderma harzianum com o reino vegetal .Mas é preciso segurar a empolgação com a batida. Os dados obtidos até agora são considerados preliminares e muitas questões permanecem em aberto: é possível influenciar as comunidades microbianas do solo ou das plantas de forma ampla? As paisagens sonoras poderiam acelerar a recuperação do solo? E qual seria o impacto sobre a fauna do solo?
Em todo caso, da próxima vez que você estiver curtindo uma melodia suave, lembre-se de aumentar o som, pois pode ser que, em algum lugar, um cogumelo esteja aproveitando a mesma vibe para ajudar uma planta a crescer.