Musgo mais antigo do mundo está ameaçado pelo aquecimento global
Takakia ocupa a cordilheira do Himalaia e o Planalto do Tibete há pelo menos 165 milhões de anos
Há cerca de 65 milhões de anos, a placa tectônica indiana começou a colidir com a euro-asiática, dando origem à cordilheira do Himalaia e ao Planalto do Tibete. Quando isso ocorreu, um ser vivo já ocupava esse local há milênios e ele se recusou a abandonar sua casa, apesar do caos. Conhecida como o musgo mais antigo do mundo, a Takakia se adaptou rapidamente ao frio e radiação intensos das grandes altitudes, mas agora está ameaçada pelo aquecimento global.
“O genoma da Takakia está evoluindo rapidamente devido à sua elevação no Himalaia, o que ajuda a lidar com o ambiente cada vez mais extremo”, afirmou a VEJA Ralf Reski, geneticista da Universidade de Freiburg e autor principal do artigo publicado nesta quarta-feira, 9, na Cell. “No entanto, o genoma não evolui rápido o suficiente para lidar com as mudanças climáticas.”
O grupo de Reski escala o Himalaia há pouco mais de uma década para estudar esse fungo. Ao longo desse tempo eles notaram que, anualmente, a população diminui cerca de 1,6%, o que indica que o musgo pode desaparecer dentro do próximo século. Isso está diretamente relacionado a um aumento de temperatura nos locais estudados, a uma altitude superior a 4 mil metros. Entre 1961 e 2021, esse acréscimo médio foi de 0,32ºC a cada década. Contudo, entre os anos de 2010 e 2021, a evolução anual foi de 0,43ºC.
Para tentar contornar esse desastre, eles têm cultivado essa briófita rara em laboratório e tentado transplantar para outros ambientes no Tibete, algo que, por enquanto, tem funcionado, mas pode não ser efetivo por muito tempo. “Esse é o musgo mais antigo descoberto até hoje e seu estudo pode revelar os traços evolutivos das primeiras plantas que conseguiram sobreviver no planeta terra, algo de muito importância para a compreensão do mundo vegetal”, diz Reski.
A Takakia é, de fato, uma verdadeira relíquia biológica. Essa espécie em específico se separou de todos os outros musgos há 390 milhões de anos e mantém o mesmo aspecto morfológico há pelo menos 165 milhões. Apesar disso, seus genes são muito diversos e se adaptam rapidamente, o que fez com que a espécie conseguisse sobreviver por tanto tempo, apesar das diversas mudanças pelas quais o mundo passou nesse período.
Agora, essa rara e resiliente espécie está ameaçada pela atividade humana, uma perda irreparável e que reflete as dimensões da nossa responsabilidade. “Ela pode morrer por causa da mudança climática, mas os outros musgos sobreviverão, mesmo que nós não tenhamos a mesma sorte”, afirma o autor. “ Nós, humanos, gostamos de pensar que estamos no topo da evolução, mas os dinossauros vieram e se foram, e os humanos também terão o mesmo destino, se não tomarmos cuidado com o planeta.”