Mudanças climáticas contribuíram para calor extremo, diz estudo
Grupo multinacional de cientistas mostra que El Niño teve papel minoritário na influência dos picos de temperatura
O que vem antes da onda de calor, El Niño ou as mudanças climáticas? Para um grupo multinacional de cientistas, a resposta é a segunda opção. Por mais que o fenômeno climático tenha contribuído com os extremos de temperatura registrados na região central do Brasil, foram as transformações no clima de longo prazo e promovidas pelo ser humano que influenciaram nesses picos dos termômetros. O estudo foi divulgado nesta terça-feira, 10, pela iniciativa World Weather Attribution.
Assinada por 12 autores, incluindo pesquisadores brasileiros, europeus e norte-americanos, a pesquisa mostra que a onda de calor do início da primavera ocorreu devido à mudança do clima causada pela ação humana. “O fenômeno El Niño pode ter contribuído com algum calor, mas sem a mudança do clima, a onda de calor da primavera não seria tão intensa”, afirma em nota Lincoln Alves, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A análise abarcou o período de 17 a 26 de setembro, no qual uma grande massa de ar quente prevaleceu nas regiões sudeste e centro-norte do país. O pico de calor foi registrado em 25 de setembro, com anomalias de temperatura 7 graus Celsius acima da média para o período, como foi registrado no sul da Bahia, leste de Goiás e Mato Grosso do Sul, e norte do Paraná. Além disso, um domo de calor se instalou entre o Paraguai e o meio-este e sudeste do Brasil.
Com ajuda de três bases de dados e de multi-modelos climáticos, os pesquisadores analisaram a onda de calor em uma área territorial que abrange, além do Brasil, Paraguai, Bolívia e Argentina. Eles também analisaram os dados sobre temperaturas máximas em São Paulo entre 1961 e 2023 a partir de dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Os pesquisadores calcularam o período de retorno, mudança na intensidade e razão de probabilidade entre 2023 e um clima com 1,2°C mais frio, ou seja, sem o aquecimento global antropogênico. De acordo com o estudo, todos os três conjuntos de dados mostram um claro aumento na frequência e intensidade de eventos quentes.
Para a análise, os pesquisadores selecionaram o período de retorno de 30 anos. Os dados indicaram que a intensidade, ou magnitude, de um evento de 10 dias que aconteceu em 2023 teria sido muito menor no passado. Além disso, eles calcularam que o evento de calor foi aproximadamente um evento de 1 em 30 anos no clima de hoje, ou seja, considerando o aquecimento global.
Com o aquecimento global, a perspectiva é de que ondas de calor se tornarão ainda mais comuns e com extremos de temperatura cada vez maiores. A temperaturas médias globais de 2°C acima dos níveis pré-industriais, um evento de calor como este será cerca de cinco vezes mais provável e 1,1 a 1,6 °C mais quente do que hoje.