Hermanos jurássicos: mostra traz dinossauros argentinos ao país
Evento que chega ao Brasil vai iluminar as descobertas da Patagônia
Em meados de 2005, um pastor de ovelhas do deserto da Patagônia, na Argentina, avistou algo incomum em sua rotina: uma formação que parecia a ponta de um osso petrificado saindo da terra. Naquele momento, ele não fazia ideia do que acabara de encontrar: o fóssil de um notável titã. O pastor decidiu avisar os donos da propriedade. Por coincidência, um deles trabalhava como verdureiro perto da casa de um famoso técnico em paleontologia, Pablo Puerta, do Museu Paleontológico Egidio Feruglio (MEF), sediado na região. De cara, o cientista se interessou pela relíquia e, em 2009, fez a primeira sondagem do fóssil. Mas foi apenas em 2014 que ele e outros pesquisadores iniciaram uma série de catorze expedições para desenterrar de vez os ossos do Patagotitan mayorum, o maior dinossauro (e animal em geral) que já pisou na face da Terra. Trazida direto da Patagônia, uma réplica em tamanho real desse hermano jurássico poderá ser apreciada pelos brasileiros na exposição Dinossauros — Patagotitan, o Maior do Mundo, que abre as portas no Parque Ibirapuera, em São Paulo, no dia 3 de setembro.
O guia completo dos dinossauros do Brasil
Até 27 de novembro, o Pavilhão das Culturas Brasileiras voltará 251 milhões de anos no tempo para recriar a Era Mesozoica, período de ascensão e queda dos dinossauros. O espaço será dividido em três partes. O Carnotaurus sastrei, espécie com chifres que remetem a um touro, poderá ser visto no primeiro módulo, devotado aos dinos carnívoros. Outra seção abrigará espécies da Patagônia que desenvolveram um gigantismo extremo, e terá como atração o Amargasaurus cazaui, herbívoro com longos e finos espinhos por toda sua coluna dorsal. Por fim, o público verá que, apesar de às vezes atingirem tamanhos colossais, havia também bichos jurássicos pequeninos, caso do Manidens condorensis, um dos menores conhecidos pela ciência.
A mostra paulistana ilustra por que as descobertas nas últimas duas décadas tornaram a Patagônia argentina um novo epicentro da paleontologia. Antes de ser um deserto, a região era uma imensa planície repleta de diversidade animal e vegetal, com araucárias enormes e samambaias. O ambiente foi alterado quando duas placas tectônicas se encontraram, há 180 milhões de anos, e formaram a Cordilheira dos Andes. Com a cadeia de montanhas barrando a passagem de umidade, a Patagônia secou. “No deserto é ótimo para procurar fósseis porque as rochas ficam na superfície, e não são decompostas em solo”, explica Luiz Anelli, professor do Instituto de Geociências da USP e curador brasileiro da exposição.
Ao todo, haverá quinze réplicas de diversas espécies achadas no país vizinho, acompanhadas de amostras de fósseis originais. Vindos da Patagônia em quatro caminhões, os dinos devem desembarcar em São Paulo entre 21 e 22 de agosto. Além da réplica do Patagotitan, que media 37 metros de comprimento e pesava 70 toneladas, a estrela da mostra terá exibido seu fêmur verdadeiro, com 650 quilos e 2,4 metros de altura. O Brasil também terá sua pequena parcela de orgulho: o acervo conterá também uma réplica do Buriolestes schultzi, bicho nacional que é o mais antigo da linhagem dos sauropodomorfos — a mesma do queridinho Patagotitan. Nesse clássico Brasil x Argentina, os hermanos saem na frente — mas nós até que não fazemos feio.
Titãs em exposição
Manidens condorensis
Um dos menores répteis pré-históricos conhecidos
Neuquensaurus australis
Espécie herbívora com 14 metros de comprimento e 4 metros de altura
Carnotaurus sastrei
Dino carnívoro com chifres
Publicado em VEJA de 17 de agosto de 2022, edição nº 2802
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