Gene emprestado de bactérias ajudou o desenvolvimento da visão humana
A descoberta ajuda a explicar a complexidade dos olhos de animais vertebrados

Quando o genoma humano foi sequenciado, em 2001, cientistas se surpreenderam ao descobrir que pelo menos 200 dos genes poderiam ser derivados de bactérias. Um estudo publicado essa semana na Proceedings of the National Academy of Sciences revela que um desses elementos genéticos teve um papel importante no desenvolvimento da visão de animais vertebrados.
Quando estudava a evolução, Charles Darwin descreveu os olhos como um dos maiores desafios para explicar a seleção natural, porque esse órgão extremamente complexo é muito diferente entre vertebrados e invertebrados. A nova descoberta ajuda a estabelecer, pelo menos parcialmente, o motivo dessa diferença.
O gene IRBP contém a “receita” para uma proteína que fica na retina e é um dos componentes presentes em vertebrados, mas que não existem em animais mais antigos, como os insetos. Curiosamente, o mesmo gene também está escrito no material genético das bactérias.
Essas evidências sugerem que o gene não foi herdado, mas foi obtido no meio do caminho evolutivo, provavelmente pelo fenômeno de transferência gênica horizontal, um termo científico para dar nome ao processo de pegar emprestado parte do material genético de seres vivos de famílias diferentes.
Essa proteína, que fica no fundo dos olhos, é responsável por reciclar os sensores de luz. Apesar de não ser absolutamente necessária para a visão, ela faz com que os olhos de humanos e de seus parentes mais próximos funcionem muito melhor durante a noite do que o dos ascendentes mais primitivos.
A descoberta ajuda a entender como estruturas complexas de seres vivos evoluíram ao longo do tempo e contribuem com a melhor compreensão da importância das trocas entre espécies para a adaptação.