Funeral mais antigo da África tem 78 mil anos e foi de uma criança
Pesquisa publicada na revista 'Nature' nesta quinta-feira dá detalhes sobre os restos descobertos no Quênia
Até recentemente não havia indicações de que os humanos modernos na África adotavam práticas fúnebres como enterrar seus mortos. Os primeiros sinais surgiram recentemente, com a descoberta dos restos do que aparenta ser uma criança de cerca de 3 anos. Apelidada de Mtoto (criança no idioma suaíli) pelos pesquisadores, ela foi cuidadosamente depositada de lado, em posição fetal, numa cova rasa na entrada da caverna de Panga ya Saidi, no litoral do Quênia, há 78 mil anos.
Humanos modernos e Neandertais enterravam seus mortos na Europa e no Oriente Médio em locais que datam de até 120 mil anos atrás. Não havia provas de rituais semelhantes na África, onde evidências científicas sugerem que os humanos modernos surgiram. Os registros mais antigos foram encontrados na áfrica do Sul (74 mil anos) e no Egito (68 mil anos).
O que chamou a atenção dos pesquisadores, cujo estudo foi publicado na revista Nature nesta quinta-feira, 6, foi o modo como o corpo teria sido enterrado, caracterizando o que os cientistas chamam de “comportamento funerário”. Maria Martinon-Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisa sobre Evolução Humana em Burgos, Espanha, e uma das principais autoras do relatório, disse que a forma como o esqueleto havia desabado indicava que algo foi colocado sob a cabeça da criança.
O torso parecia ter sido envolto em um material que mais tarde se desintegrou, “algo como folhas grandes, como plantas ou talvez pele de animal”, diz ela no texto de apresentação.
Os restos da criança indicam que se trata de um Homo sapiens, mas o crânio traz dentes com características diferentes. Isso leva à conclusão de que os homens modernos evoluíram em mais de uma parte da África, consequência do nomadismo e da mistura de grupos que viajavam pelo continente.