Fóssil encontrado no RS preenche lacuna na origem dos dinossauros
Novo parente dos dinossauros, descoberto por cientistas brasileiros, mostra que esses animais habitaram o sul do Brasil por pelo menos 11 milhões de anos

Um novo fóssil descoberto no interior do Rio Grande do Sul está ajudando a contar uma parte esquecida da história dos dinossauros. Pesquisadores brasileiros identificaram uma espécie inédita de dinossauromorfo — grupo que inclui os dinossauros e seus parentes mais próximos — a partir de ossos encontrados em Santa Cruz do Sul. A espécie recebeu o nome de Itaguyra occulta, que mistura palavras do tupi e do latim e significa algo como “ave de pedra escondida” — uma referência à sua linhagem e ao fato de o fóssil ter passado despercebido por anos num acervo científico.
Os ossos, parte da região da bacia do animal, estavam guardados como restos “indeterminados”, mas uma análise mais cuidadosa revelou que pertencem a um animal que viveu há cerca de 236 milhões de anos, bem antes dos dinossauros se tornarem os reis da Terra. A descoberta foi publicada na revista Scientific Reports, ligada ao grupo Nature.
Por que essa descoberta é importante?
O achado preenche uma lacuna no registro fóssil de um grupo de animais chamado “silesaurídeos”, que surgiram antes dos dinossauros e podem ter sido os primeiros representantes do grupo dos herbívoros como o tricerátopo. Até agora, fósseis desse tipo tinham sido encontrados em camadas de rocha mais antigas e mais recentes, com um buraco de milhões de anos entre eles. O Itaguyra occulta aparece justamente nesse meio do caminho.
Isso mostra que esses animais sobreviveram por muito tempo na região que hoje é o sul do Brasil, mesmo com todas as mudanças no clima e nas espécies que viviam por lá. Segundo os autores, essa presença constante por pelo menos 11 milhões de anos sugere que os silesaurídeos eram adaptáveis e conseguiram ocupar diferentes tipos de ambiente, antes mesmo dos dinossauros se tornarem dominantes.
O que isso revela sobre a origem dos dinossauros
A nova espécie reforça a ideia de que os primeiros dinossauros — ou seus parentes muito próximos — viveram durante bastante tempo ao lado de outros animais mais comuns da época, como répteis parecidos com crocodilos e pequenos mamíferos primitivos. Eles não apareceram de repente nem tomaram conta do planeta de uma hora para outra. Pelo contrário: passaram milhões de anos como coadjuvantes nos ecossistemas triássicos.
Além disso, Itaguyra pode ajudar a resolver um velho mistério da paleontologia: os silesaurídeos eram de fato dinossauros ou apenas primos próximos? Há pesquisas que os colocam como os primeiros integrantes do grupo dos dinossauros herbívoros, o que mudaria nossa linha do tempo sobre a origem desses animais. Ainda não há consenso, mas cada nova descoberta como essa ajuda a montar o quebra-cabeça.