Feitiço mais antigo já registrado é realizado até hoje por aborígenes
Ritual é transmitido de geração em geração há pelo menos 10 mil anos
No século XIX, o etnólogo Alfred Howitt documentou evidências históricas de um feitiço usado pelo grupo aborígene Gunaikurnai, da Austrália, para curar ou causar mal às pessoas. Um grupo de pesquisadores descobriu recentemente que o ritual existe há pelo menos 10 mil anos, sendo o mais antigo já registrado em todo o mundo.
Que feitiço é esse?
O ritual se baseia em prender um artefato pertencente a uma pessoa doente em um bastão de madeira besuntado de gordura humana ou animal. Esse pau seria, então, fincado no chão e uma fogueira seria acesa embaixo dele. Acessa a chama, o nome do indivíduo era cantado até que o objeto caísse no chão, finalizando a cerimônia.
O que os pesquisadores descobriram?
Em uma parceria com povos originários, pesquisadores da Universidade Monash investigaram a caverna Cloggs, onde encontraram evidências desse mesmo ritual que datam de algo entre 10 e 12 mil anos atrás. “Em nenhum outro lugar da Terra foram encontradas evidências arqueológicas de uma prática cultural muito específica que tenha sido rastreada há tanto tempo”, diz o arqueólogo Bruno David, autor do artigo publicado no periódico científico Nature Human Behaviour.
Como essa prática é realizada até hoje, utilizando madeira de um grupo de árvores chamadas de casuarina, os pesquisadores sugerem que esse é o mais antigo ritual transmitido culturalmente já descoberto pela ciência, sobrevivendo por cerca de 500 gerações desde o fim da última era glacial.
“É o lembrete de que somos uma cultura viva, ainda ligada ao nosso passado antigo”, diz Russell Mullett, ancião dos Gunaikurnai. “É incrível que esses artefatos tenham sobrevivido. É uma oportunidade única de poder ler as memórias dos nossos Antepassados e partilhá-las com a nossa comunidade.”
Quem são esses povos?
Os Gunaikurnai são povos aborígenes do sudeste da Austrália. Sobreviventes da ocupação europeia, os cerca de 3 mil indivíduos da comunidade são um dos povos mais antigos ainda vivos. Embora existam dialetos específicos desse grupo, hoje existem pouquíssimos falantes dessa língua.