Extinções são eventos importantes para a vida na Terra. Apesar de grupos de animais e plantas desaparecerem nesses eventos, elas forçam o resto da cadeia a se adaptar, e não foi diferente quando os grandes mamíferos, como mamutes e preguiças-gigantes, passaram por esse processo, entre 50 e 10 mil anos atrás.
De acordo com o artigo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e publicado nesta terça-feira, 12, no periódico científico Annual Review of Earth and Planetary Sciences, a extinção global da megafauna fez com que sementes de plantas e animais carnívoros reduzissem de tamanho para se adaptar a nova realidade.
Qual a relação disso com o mundo atual?
A revisão científica investigou o papel das extinções no Pleistoceno nas plantas e animais de diferentes ecossistemas. “Os mamíferos que chamamos de megafauna podem atingir mais de 1000 quilos, consomem muito alimento, espalham nutrientes através das fezes e têm capacidade de se deslocar por grandes distâncias”, afirma Mathias Mistretta Pires, pesquisador da Unicamp e autor do estudo. “As extinções causaram a perda desses processos.”
Nessa época, 70% de toda a megafauna desapareceu do planeta, o que moldou a paisagem como ela é hoje. Sem eles, as plantas com grandes sementes foram afetadas, dando espaço para as sementes menores, capazes de serem transportadas por animais de pequeno e médio porte. Além disso, os grandes predadores também ficaram sem alimento, favorecendo a expansão dos animais que se nutriam de presas menores.
“A partir do momento em que a megafauna sumiu, as sementes grandes não tinham mais capacidade de serem dispersas para longe da planta, o que diminuiu suas chances de germinação”, diz Pires. “Já os grandes predadores que sobreviveram se tornaram mais centrais, pois há uma quantidade bem menor de espécies atualmente do que antes.”
Qual a importância desse tipo de pesquisa?
Essa compreensão é importante para seja possível criar estratégias para lidar com novos eventos de extinção. A partir do estudo do efeito que esses eventos tiveram no passado, é possível prever os impactos que novos desaparecimentos podem causar e, consequentemente, se torna viável desenvolver estratégias de manejo mais apropriadas.
“A integração de áreas da paleoecologia e da biologia da conservação pode nos ajudar a criar estratégias para restaurar funções exercidas pela megafauna, como a dispersão de nutrientes e sementes e a regulação das populações naturais”, afirma Pires.
(Com Agência Bori)