Estudo: Onda de calor seria impossível sem mudança climática
Pesquisa da organização internacional World Weather Attribution tem participação de 27 cientistas de vários países
Nos últimos dias de junho, áreas do noroeste do Pacífico dos Estados Unidos e Canadá alcançaram temperaturas nunca antes observadas, com recordes quebrados em muitos lugares. Várias cidades nos estados americanos de Oregon e Washington e nas províncias ocidentais canadenses registraram temperaturas muito acima de 40°C – a cidade canadense de Lytton alcançou 49,6°C e foi consumida por incêndios. De acordo com um estudo recente da organização internacional World Weather Attribution, nada disso seria possível sem o aquecimento global provocado pela ação humana desde a Revolução Industrial.
Cientistas dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Holanda, França, Alemanha e Suíça colaboraram para avaliar em que medida as mudanças climáticas induzidas pelo homem tornaram esta onda de calor mais quente e mais provável. O estudo, ainda não revisado por pares, diz que antes da era industrial o calor extremo do final de junho na região era o tipo que não teria acontecido na civilização humana. E mesmo no mundo em aquecimento de hoje o calor era um evento que acontecia uma vez no milênio.
A equipe registrou observações do que aconteceu e alimentou 21 modelos de computador que executou várias simulações. Depois, projetaram um mundo sem gases de efeito estufa provenientes da queima de carvão, petróleo e gás natural. A diferença entre os dois cenários é a parte das mudanças climáticas. “Sem as mudanças climáticas, esse evento não teria acontecido”, disse à agência AP o líder do estudo, Friederike Otto, cientista climático da Universidade de Oxford.
O que torna essa onda de calor tão notável são os valores muito mais altos do que os registros antigos e do que os modelos climáticos haviam previsto. Os cientistas dizem que isso sugere que outros fatores relacionados às mudanças climáticas podem estar em jogo – e em lugares improváveis. “Todos estão realmente preocupados com as implicações deste evento”, disse à AP o coautor do estudo Geert Jan van Oldenborgh, cientista climático holandês. “Isso é algo que ninguém previu, que ninguém pensou ser possível. E sentimos que não entendemos as ondas de calor tão bem como pensávamos.”