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Estudo identifica mecanismo que inibe pensamentos indesejados

O neurotransmissor responsável por suprimir memórias ruins foi identificado pela primeira vez. A descoberta pode ajudar no tratamento de doenças mentais

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 20h21 - Publicado em 3 nov 2017, 13h45
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  • Cientistas identificaram uma substância no cérebro que pode ser usada para suprimir pensamentos indesejados, segundo um estudo divulgado nesta sexta-feira na revista científica Nature Communications. De acordo com os pesquisadores, pessoas que apresentam doenças como ansiedade, estresse pós-traumático, depressão e esquizofrenia têm dificuldade recorrente para afastar esses pensamentos devido a um desequilíbrio na quantidade dessa substância presente no cérebro. Por isso, desenvolver uma forma de regular esse mecanismo poderia ajudar a tratar esses distúrbios.

    “A habilidade de controlar nossos pensamentos é fundamental para o bem-estar”, afirma o em comunicado o coautor do estudo, o neurocientista Michael Anderson, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. “Quando perdemos essa capacidade, surgem os sintomas mais debilitantes das doenças psiquiátricas: memórias e imagens indesejadas, alucinações, ruminações [pensamentos obsessivos] e preocupações patológicas e persistentes. Todos esses são os sintomas principais de doenças mentais.”

    Anderson compara a habilidade de afastar pensamentos negativos com o ato de impedir alguma ação física impulsiva. Segundo ele, da mesma forma que existem mecanismos no nosso cérebro para impedir que certos reflexos ocorram quando podem ser perigosos para o indivíduo, há um mecanismo mental para impedir pensamentos “tóxicos”. Uma das regiões que os cientistas já sabem que desempenha um importante papel no controle tanto das ações quanto dos pensamentos é o córtex pré-frontal. Ele atua como um regulador mestre das outras partes do cérebro – o córtex motor, no caso das ações, e o hipocampo, no caso das memórias.

    Mas, com o novo estudo, os pesquisadores puderam ser ainda mais específicos – eles conseguiram apontar o neurotransmissor (substância que regula a passagem de uma mensagem entre os nervos do cérebro) responsável por suprimir os pensamentos indesejados, conhecido como GABA. Quando ele é liberado por um nervo cerebral, impede que a mensagem se propague aos demais, “cortando” o pensamento. A concentração deste neurotransmissor no hipocampo de um paciente é o que determina sua habilidade de suprimir essas mensagens e impedir que elas fiquem voltando à mente.

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    Pensamentos

    Para chegar a essa conclusão, Anderson e sua equipe realizaram um experimento batizado de “Pense/Não Pense”. Os participantes eram ensinados a ligar duas palavras que, em outros contextos, estariam completamente desconectadas, como “calvície” e “barata”, por exemplo. Na etapa seguinte, eles eram expostos a uma das palavras e deveriam lembrar-se da palavra associada, se o sinal fosse verde, ou tentar não pensar nela, se o sinal fosse vermelho. Dessa forma, se a palavra “calvície” aparecesse na tela em verde, os voluntários deveriam pensar em “barata” – mas, se aparecesse em vermelho, eles tinham de ficar encarando o painel e tentando evitar a associação.

    Enquanto o experimento era realizado, os pesquisadores utilizavam uma combinação de imagens de ressonância magnética e espectroscopia para observar o que estava acontecendo em cada região do cérebro. A espectroscopia ajuda os cientistas a tirar um “raio-X químico” do cérebro, identificando quais substâncias estão em atividade durante a tarefa. Assim, Anderson e sua equipe perceberam que havia uma correlação entre a concentração do neurotransmissor GABA e a habilidade de suprimir os pensamentos.

    A descoberta ainda poderia responder a uma das maiores dúvidas encontradas em estudos sobre a esquizofrenia, que está relacionada ao papel do hipocampo na doença. Pesquisas anteriores mostraram que pessoas afetadas pela esquizofrenia possuem essa parte do cérebro “hiperativa”, o que estaria relacionado a sintomas com o aparecimento de alucinações. Outros estudos, realizados após a morte dos pacientes, revelaram que os neurônios inibitórios (que usam o GABA) nos hipocampos desses indivíduos estão comprometidos, possivelmente tornando mais difícil para o córtex pré-frontal regular a atividade da estrutura. Isso leva os pesquisadores a concluir que o hipocampo não está inibindo pensamentos e memórias indesejadas, e que isso poderia se manifestar na forma de alucinações.

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