Nos tempos bíblicos, Israel era um importante elo entre duas civilizações importantes no chamado Crescente Fértil: a Mesopotâmia e o Egito. A partir da ocupação de Alexandre, o Grande, o país serviu como ligação geográfica e cultural entre oriente e ocidente. Mais tarde se tornou base para a ampliação das principais religiões monoteístas. Esse protagonismo faz de Israel um dos principais sítios arqueológicos do mundo. Apesar disso, uma descoberta recente conseguiu surpreender até mesmo um grupo de arqueólogos experientes.
Os pesquisadores estavam escavando uma região do deserto de Negev, onde se planejava construir um oleoduto, quando encontraram pilhas de pedras cuidadosamente alocadas. Até aí, nada de extraordinário, dado que montes desse tipo são encontrados com frequência naquela área e remontam a enterros feitos durante a Idade do Bronze. Porém, o que parecia uma descoberta corriqueira, mostrou-se menos comum do que se supunha inicialmente.
Junto às pilhas de pedra, rapidamente descobriu-se mais de 50 esqueletos com aproximadamente 2.500 anos. Os túmulos, inicialmente simples, revelaram-se duas câmaras funerárias separadas por um pátio. A descoberta é inédita naquela região, e não pode ser atribuída a nenhum assentamento humano conhecido até agora.
A sepultura está localizada em um território estratégico: o cruzamento de duas rotas comerciais que partem do Egito em direção à Jordânia e à Península Arábica, cortando o deserto de Negev. Os pesquisadores não sabem ao certo como ou porque os corpos foram parar neste local, mas acreditam que esta rota tinha um significado religioso. “O local parece estar localizado no início de uma encruzilhada antiga, e parece que foi usado por gerações para sepulturas comunais e rituais funerários associados ou realizados por viajantes”, diz o estudo.
A maioria dos enterros datam do primeiro milênio a.C, entre o final da II Idade do Ferro e o início da dominação persa. Acredita-se que os corpos foram enterrados em diferentes ocasiões. Alguns enterros foram ornados com bens especiais, que denotavam alguma riqueza. Embora análises genéticas mais contundentes ainda sejam necessárias, os pesquisadores acreditam que a maioria dos corpos encontrados ali eram de mulheres, que foram enterradas com jóias, incluindo pingentes, anéis, miçangas e outros itens. Alguns artefatos também indicam uma origem cultural diversa, como os vasos de alabastro e queimadores de incenso que remetem a tradições do sul da Península Arábica.
Entre as teorias possíveis, está a de que esses corpos pertenciam a mulheres que rumavam para a Arábia, traficadas e destinadas a servir como escravas, uma prática registrada em muitas fontes antigas. Os pesquisadores acreditam que alguns desses artefatos podem ter pertencido, de fato, a mulheres de origem árabe, no entanto afirmam haver evidências históricas suficientes para suspeitar que podiam pertencer a mulheres estrangeiras que estavam sendo levadas à Península Arábica.
Para os arqueólogos, “o local abre um portal para pesquisas multidisciplinares relacionadas à identificação da origem dos achados, bem como a origem dos sepultamentos e dos enterrados e a compreensão de seu significado ritual”, afirmam no estudo. A construção do oleoduto planejado foi suspensa e o local será preservado para estudos futuros.