DNA mais antigo de Homo sapiens revela mistura com neandertais na Europa
Sequenciamento genético humano de 45.000 anos revelou uma surpreendente migração para o continente

O sequenciamento genético de restos de Homo sapiens de cerca de 45.000 anos revelou uma surpreendente migração humana no continente europeu e mostrou que as misturas com populações neandertais na região foram mais comuns do que se pensava até então. Esta é a conclusão de um estudo divulgado nesta quarta-feira 7 pela revista científica Nature.
Os restos humanos incluem um dente inteiro e fragmentos de ossos, encontrados na caverna Bacho Kiro, na Bulgária, no ano passado, e um crânio achado na caverna de Zlatý kůň, na República Checa, em 1950. A conclusão do sequenciamento genético “muda a nossa compreensão inicial das primeiras migrações humanas na Europa”, afirmou Mateja Hajdinjak, do Instituto de Antropologia Evolutiva Max Planck de Leipzig, na Alemanha, e líder da pesquisa.
O estudo também revelou que os primeiros humanos e os neandertais se reproduziam entre si. “Todos os indivíduos da caverna Bacho Kiro têm ancestrais neandertais em cinco ou sete gerações anteriores à sua, o que sugere que as misturas entre esses primeiros humanos na Europa e os neandertais eram frequentes”, segundo Hajdinjak.
A tese da teoria da evolução mais aceita pela ciência dá conta de que o Homo sapiens surgiu na África e migrou para fora do continente há cerca de 300.000 anos, substituindo as populações de Homo erectus na Ásia e de Homo neanderthalensis na Europa.
Os neandertais, de constituição física mais robusta do que o Homo sapiens, portanto, habitavam a Europa centenas de milhares de anos antes do surgimento dos humanos modernos. As novas descobertas, no entanto, indicam que as duas espécies se sobrepuseram por milhares de anos antes que os neandertais fossem extintos (possivelmente exterminados pelos humanos).
Os três indivíduos mais velhos encontrados na caverna búlgara de Bacho Kiro, com idades entre 45.900 e 42.600 anos, tinha ancestrais neandertais em suas últimas seis ou sete gerações – e provavelmente na Europa, não no Oriente Médio. Já a ancestralidade Neandertal da mulher batizada de Zlatý kůň (cavalo dourado, em checo), remonta a 70 a 80 gerações, segundo o paleogeneticista Johannes Krause, que co-liderou o estudo.
Sua equipe não conseguiu datar o crânio achado na República Checa com precisão por causa da contaminação, mas, com base em sua ancestralidade neandertal, Krause suspeita que ela tenha bem mais que os 45.000 anos dos antigos habitantes de Bacho Kiro. “Temos, agora, alguns dos genomas humanos mais antigos que existem”, acrescenta Hajdinjak.
“O fato de vários humanos de Bacho Kiro terem parentes Neandertais muito recentes sugere que os grupos se misturavam rotineiramente na Europa”, diz Marie Soressi, arqueóloga da Universidade de Leiden, na Holanda, que planeja examinar mais a fundo o tema. Segundo ela, ferramentas de pedra e outros artefatos comuns ao Paleolítico Superior inicial podem ser produto de intercâmbios culturais ou mesmo de populações mistas, diz ela. “Queremos realmente entender melhor o que aconteceu, qual foi o processo histórico e quão pacíficos foram esses encontros.”
Os indivíduos mais velhos de Bacho Kiro e da fêmea Zlatý kůň não se assemelham aos europeus posteriores, antigos ou modernos, o que significa que suas linhagens devem ter desaparecido da região. No entanto, sua herança genética é compatível com humanos asiáticos e nativos americanos contemporâneos.