Destruição da Grande Barreira de Corais é maior que o previsto
Relatório mostra que 29% da formação foi destruída em 2016, mais que o esperado. Mudanças climáticas devem levar a danos maiores até o fim deste ano
A Grande Barreira de Corais da Austrália sofreu uma destruição maior que o previsto em 2016 e o impacto das mudanças climáticas deve levar a formação a sofrer um declínio ainda maior até o fim deste ano, alertaram especialistas nesta segunda-feira. Levantamento apresentado pela Autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira (GBRMPA, na sigla em inglês), órgão ligado ao governo australiano, revelou que o dano aos corais em 2016 foi de 29% – os pesquisadores esperavam que o número não ultrapassasse 22%. É o dano mais grave já registrado na história da estrutura, causado pelo impacto das mudanças climáticas.
“Estamos muito preocupados com o que isso significa para a Grande Barreira de Corais e para as comunidades e indústrias que dependem dela”, afirmou Russell Reichelt, presidente da GBRMPA, em comunicado. “A formação é um sistema amplo e resiliente que, no passado, mostrou sua capacidade de recuperação – contudo, as mudanças atuais estão alterando essa habilidade.”
Grande Barreira de Corais em perigo
A formação, um aglomerado de corais que se estende por 2.300 quilômetros na costa leste da Austrália, é a maior estrutura do planeta composta apenas de seres vivos, com um conjunto de 400 espécies de corais que serve de abrigo para 1.625 espécies de peixes e 4.000 espécies de moluscos. Além de resguardar a biodiversidade marinha, a Grande Barreira de Corais, classificada como patrimônio mundial da Unesco desde 1981, é fonte de renda para o país, que arrecada anualmente cerca de 6 bilhões de dólares australianos (cerca de 14.000 bilhões de reais). Contudo, o impacto das mudanças climáticas tem sido fortemente sentido pela formação, que sofre com um processo chamado braqueamento, quando as algas que dão coloração azul, vermelha e amarela aos corais morrem devido ao aquecimento das águas e se desprendem da estrutura, deixando-a “desbotada”.
“A quantidade de corais que morreu pelo branqueamento em 2016 é maior que nossas previsões iniciais e antecipamos que acontecerá um declive adicional até o fim de 2017”, afirmou Reichelt.
Segundo o relatório, a zona mais prejudicada fica ao norte da cidade de Port Douglas, onde até 70% dos corais da superfície morreram. As cidades de Cairns e Townsville também foram fortemente afetadas. As partes mais ao Sul do coral foram menos afetadas, de acordo com o levantamento.
A preocupação dos pesquisadores se dá porque a capacidade de recuperação dos corais, verificada por observações aéreas e submarinas, parece estar fortemente ameaçada. A Grande Barreira pode se recuperar se houver uma queda de temperatura da água –entretanto, os cientistas estão preocupados, pois se não houver diminuição da emissão de carbono, a tendência é que as temperaturas aumentem. Além disso, a formação leva até uma década para voltar a ser colonizada por algas e pólipos.
Recuperação
Em outro comunicado divulgado pelo órgão, no início de maio, especialistas sugeriram que o mais viável seria tentar “conservar o papel ecológico” da formação, em vez de fazer esforços para recuperá-la. No início de abril, um estudo da James Cook, uma das principais universidades da Austrália e referência internacional em sustentabilidade, revelou que dois terços dessa magnífica formação estão comprometidos num grau dificilmente reversível.
Veja alguns registros dos recifes de coral da Grande Barreira antes e depois do branqueamento (as imagens são do Centro de Excelência ARC para Estudos de Recifes de Coral, do Conselho de Pesquisa Australiana):