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De rabo preso: estudo revela por que humanos perderam prolongamento

Mudança foi importante para possibilitar a locomoção bípede

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 Maio 2024, 12h36 - Publicado em 6 mar 2024, 15h10

Humanos são descendentes diretos dos primatas, animais inteligentes, possuidores do poderoso polegar opositor, mas incapazes de dominar os ambientes terrestres. O que permitiu então que os humanos descessem das árvores para construir seu império sobre a Terra? As respostas são diversas, mas um fenômeno foi crucial: perder as quase onipresentes caudas – e agora um estudo revela como isso ocorreu. 

De acordo com um artigo científico publicado na Nature, uma única mutação foi responsável por fazer com que hominídeos e os primatas evolutivamente mais próximos perdessem o rabo. “Nós ficamos surpresos e animados!”, disse a VEJA o pesquisador da Universidade de Nova Iorque e autor do artigo Itai Yanai. “É maravilhoso ver que uma alteração genética tão pequena pode causar uma mudança anatômica tão importante.”

O gene em questão é o TBXT, também conhecido como brachyury, palavra que significa “pequeno rabo” em grego. Pesquisadores já sabiam, desde a década de 1920, que esse elemento estava relacionado ao desenvolvimento da cauda em animais, mas é a primeira vez que identificam que foi precisamente uma mutação nesse gene que causou o desaparecimento desse órgão em ancestrais dos humanos. 

Que benefícios isso promoveu?

Não foi exatamente nos hominídeos que o rabo foi perdido, porque alguns primatas como chimpanzés e gorilas também não tem esse apetrecho biológico. “Uma cauda pode ser vantajosa quando você mora em árvores, mas quando se faz a transição para a terra, ela se torna um empecilho”, diz o autor. “Perdê-la pode ter oferecido uma vantagem evolutiva, pois facilitou a locomoção bípede.”

Como isso foi descoberto?

No início a pergunta dos pesquisadores foi simples: Será que conseguimos descobrir o meio genético pelo qual perdemos a cauda? para responder, os pesquisadores investigaram 140 genes ligados ao desenvolvimento do rabo em vertebrados e descobriram que, em um determinado momento, os ancestrais dos humanos passaram a carregar um mutação no brachyury que coincidiu com o não desenvolvimento da cauda. 

Para ter certeza de que isso era verdade, eles modificaram geneticamente alguns camundongos para inserir essa mutação específica no gene TBXT e boom! o rabo deixou de se desenvolver. “Temos boas evidências de que a mutação aconteceu há cerca de 25 milhões de anos, quando os ancestrais hominóides começaram a se divergir dos antepassados”, afirma Yanai. 

RABO - Mutação: à esquerda animais com o gene intato a à direita animais com Tbxt mutado
RABO – Mutação: à esquerda animais com o gene intato a à direita animais com Tbxt mutado (Xia et al., 2024/Nature/Divulgação)

Curiosamente, essa mutação também aumenta a possibilidade de falhas no desenvolvimento, provocando uma anomalia parecida com a espinha bífida, uma má formação congênita observada em alguns bebês humanos. “Isto sugere evolutivamente era tão importante perder a cauda que, apesar de criarmos o potencial para esta condição, a alteração permaneceu nos indivíduos”, diz o pesquisador. 

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