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Dados da Nasa revelam possível oceano debaixo da superfície de Marte

E seguimos alimentando a busca por vida extraterrestre

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 set 2024, 11h42 - Publicado em 24 ago 2024, 08h00
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  • Com uma superfície fria, desértica e seca, Marte é um dos planetas mais hostis à vida, como sempre reafirmou a ciência do espaço. Contudo, nem sempre foi assim. Há 4 bilhões de anos, quando a Terra começava a abrigar os primeiros microrganismos, o vizinho rubro ainda era razoavelmente habitável, tinha atmosfera aquecida, campo magnético protetor e rios fluindo por todos os cantos.

    O destino daqueles jorros de água é um mistério. Há quem acredite que um grande asteroide ou até o crescimento descontrolado de alguma forma de existência possa ter causado uma mudança atmosférica repentina e a consequente evaporação dos líquidos. Agora, no entanto, uma nova teoria ganha força. A sonda InSight, da Nasa, colheu dados, entre 2018 e 2022, que revelam haver debaixo da crosta marciana, a 15 quilômetros de profundidade, um extenso oceano, sugerindo que os fluidos da superfície tenham sido absorvidos pelo solo — e não transformados em gases espraiados pela órbita. “Entender os ciclos hídricos de Marte é crucial para a compreensão da evolução e da habitabilidade do planeta”, disse a VEJA o astrobiólogo Fabio Rodrigues, professor do Instituto de Química da USP.

    A revelação joga luz sobre a história marciana e, no limite, ilumina também a trajetória da Terra. Ao analisar dados sísmicos, registros de meteoros e pequenos terremotos, a sonda conseguiu determinar que, acima do núcleo, há uma imensa camada de rochas produzidas a partir do fogo, de magma solidificado, que, provavelmente, estão repletas de água. Essa conclusão foi extraída de exames complexos, que misturam o estudo das rochas a minuciosos cálculos matemáticos, ancorados em algoritmos.

    INVESTIGAÇÃO - A sonda InSight: entre 2018 e 2022, análise de ondas sísmicas
    INVESTIGAÇÃO - A sonda InSight: entre 2018 e 2022, análise de ondas sísmicas (JPL-Caltech/Nasa)

    É aventura geológica fascinante, capaz de alimentar uma busca eterna do ser humano, a resposta a uma pergunta que não quer calar, costura de poemas, romances e filmes: afinal, há vida extraterrestre? Os cientistas afirmam que, embora a superfície fria e seca de Marte seja estéril, a camada úmida sob a crosta, quente e rica em minerais e compostos orgânicos, pode, sim, ser de algum modo habitável — a exemplo dos lençóis freáticos e fontes hidrotermais encontrados aqui embaixo, distantes dos olhos. “A água é necessária para a vida como a conhecemos”, resume Michael Manga, pesquisador da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e coautor do estudo publicado no PNAS, publicação oficial da Academia Americana de Ciências. “Não encontramos ainda nenhuma evidência de vida em Marte, mas pelo menos identificamos um lugar que, em princípio, seria capaz de sustentar vida.”

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    A recente descoberta se soma a uma extensa lista de outros trabalhos que dão suporte à possibilidade de algo como nós mesmos no planeta vermelho. Em um comunicado recente, a Nasa foi direto ao ponto: a sonda Perseverance encontrou no planeta uma possível bioassinatura, nome dado a compostos produzidos exclusivamente por seres vivos e que são indicativos de atividade biológica. Essa espécie de marca foi descoberta numa rocha batizada com o nome de Cheyava Falls e consiste em moléculas orgânicas e um composto de fosfatos e ferro que, na Terra, estão relacionados à fossilização de micróbios que um dia viveram na superfície. Várias outras evidências ainda apontam para a presença no solo marciano dos ingredientes químicos essenciais para a vida — os CHONPS, sigla em inglês que reúne a primeira letra dos símbolos de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre.

    Um longo caminho será percorrido até que se comprovem todas as teses. Cavar um túnel de mais de 15 quilômetros, em busca da água, seria inviável até mesmo na Terra. É, portanto, solução impossível, por ora. Será preciso muito tempo para que se colham moléculas que a probabilidade indica existirem. Enquanto isso, e não é pouca coisa, trabalha-se com a expectativa, o bem-vindo combustível para a imaginação. E seguimos na lida para quem sabe, um dia, descobrirmos não estar sós, irremediavelmente sós.

    Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907

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