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Coronavírus: Lontras vivem isolamento com cuidador de animais em SC

Fechado para visitação desde o dia 14 de março, o Projeto Lontra costuma receber cerca de 2.000 visitantes por mês

Por Jennifer Ann Thomas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 mar 2020, 18h49 - Publicado em 26 mar 2020, 17h14

Em Florianópolis, capital de Santa Catarina, há um grupo de seres que sabe que a rotina mudou, mas não entende exatamente o porquê. Seis lontras, três furões, duas iraras e um guaxinim (o único que não faz parte da mesma família dos Mustelídeos) vivem no cativeiro do Projeto Lontra, iniciativa do Instituto Ekko Brasil, em atividade desde 1986. Desde o dia 14 de março, por causa da pandemia causada pelo coronavírus, o Projeto está fechado para visitação. Em média, 2.000 pessoas por mês costumam passar por ali. Contudo, por mais que crianças de diferentes escolas não possam mais ir ao local para aprender sobre a importância da preservação da espécie e de seu ecossistema, os bichos ainda precisam de cuidados para a alimentação e a manutenção do local onde vivem.

Para essa função, Marcelo Tosatti, 46, coordenador de logística do Projeto Lontra, mantém o isolamento social recomendado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde, mas jamais deixará sozinhos os animais que dependem do cuidado humano para sobreviver. Ele é a única pessoa que está em contato direto com os bichos. “Estou isolado do mundo e brincando com as lontras”, disse. Os colaboradores estão trabalhando à distância, pela internet, e foi implantado um sistema de lavagem dos pneus para entrar com o carro na área do projeto. “Por mais que os animais não transmitam o vírus, é importante seguir o protocolo de higienização das roupas durante o manejo”, explicou. “A dedicação é de sete dias por semana. Os bichos nos reconhecem pelo cheiro, pelo som. Criamos eles desde filhotes, amamentando na mamadeira. Somos a referência deles”, afirmou.

Quando chegou ao Projeto, em 2002, a intenção era prestar auxílio às pesquisas e cuidar das instalações da sede. Em 2004, o Projeto Lontra recebeu o primeiro animal para viver em cativeiro e foi assim que Tosatti iniciou o contato com os bichos. Hoje, todos do plantel foram criados desde filhotes na mamadeira. Eram animais machucados, que tiveram algum problema na natureza, ou que perderam a mãe e se tornaram órfãos. Sem a proteção materna até o primeiro ano de idade, os filhotes não sobreviveriam sozinhos. 

“A gente assumiu o papel que a mãe teria na natureza. Vemos, literalmente, que existe gratidão”, afirmou. Nesses dias de calmaria, o cuidador percebeu que a cambada demonstra felicidade quando ele se aproxima. “Dentro de todos os cuidados com um animal silvestre, para eles e para nós, as lontras demonstram que querem brincar e ficar perto. Se estão sonolentas e me aproximo, logo ficam alegres”, explicou.

Mesmo em contato diário com o “pai e mãe” (forma como Tosatti costuma se referir a si próprio e a outros cuidadores), os animais demonstraram no comportamento que sabem que alguma coisa aconteceu no mundo exterior. Com o fluxo diário de visitantes, e o típico alvoroço causado crianças em contato com criaturas tão fofas quanto as lontras, os animais podem ficar estressados, demonstrando um comportamento mais ativo do que o normal. “O animal silvestre na natureza tem que estar sempre em alerta. Eles ficam amendrontados pela relação entre presa e predador, é a lei da selva. A lontra é um animal muito ativo”, explicou.

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Sem o ruído dos visitantes, o ambiente se torna mais tranquilo e os bichos podem descansar. Tosatti percebeu que eles até começaram a interagir mais entre si. “Também é interessante pelo ponto de vista de pesquisa, pois agora podemos observar detalhes de comportamento que em situações normais não seria possível enxergar. Posso entender melhor o que está acontecendo com o bicho, se ele está bem, ter informações mais focadas em cada indivíduo”, explicou.

Uma das preocupações é com relação ao abastecimento de alimentos para os animais. Apenas as lontras consomem cerca de 10 quilos de peixe por dia. Os outros animais consomem o mesmo volume de comida em frutas. “Temos parcerias com pescadores da comunidade local. Alguns continuaram com a atividade, outros pararam”, explicou. Há apreensão com relação ao abastecimento de vegetais, hortaliças, carnes, entre outros. Até o momento, não houve problemas com o abastecimento. E Tosatti e as lontras seguem aproveitando o silêncio enquanto os dias de isolamento permitirem.

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