Cientistas reanimam verme congelado há 46 mil anos
Até agora, acreditava-se que esse processo só poderia ser feito com animais que ficaram dormentes por algumas décadas
Alguns animais têm a capacidade de entrar em um estado de dormência que os ajuda a passar por períodos de condições adversas, como frio extremo e falta de alimento. Apesar do processo já conhecido, um estudo divulgado nesta quinta-feira, 27, surpreendeu os cientistas ao revelar que um desses seres conseguiu ficar dormente por mais de quatro milênios.
É comum que pesquisadores consigam reanimar algumas espécies que passaram um tempo congeladas. Dessa vez, o animal acordado foi retirado de uma amostra coletada em uma escavação de depósitos de lodo no nordeste do Ártico. Ao fazer análises de radiocarbono para avaliar a idade do material, eles descobriram que ele permaneceu assim desde o Pleistoceno, entre 47,7 mil e 45,8 mil anos atrás.
“Temos muitas espécies no laboratório que são capazes de criptobiose e nós conseguimos reanimá-las rotineiramente”, afirmou a Veja o autor do estudo publicado no periódico científico PLOS Genetics, Philipp Schiffer. “Nós pensávamos que isso poderia ser feito com animais congelados por algumas dezenas, talvez centenas de anos, mas certamente não dezenas de milhares.”
Criptobiose é o nome do processo que esses animais utilizam para entrar nesse estado de dormência, em que eles não podem ser considerados nem vivos, nem mortos. Para isso, os seres produzem moléculas de açúcar chamadas de Trealose que permitem que eles sejam severamente congelados ou desidratados, sem ter os seus órgãos danificados.
A família dos nemátodos, a que o espécime pertence, é famosa por esse feito. Eles são minúsculos vermes cilíndricos e não segmentados que, com alguma frequência, parasitam o intestino de alguns mamíferos – inclusive seres humanos. O mais conhecido deles é o Caenorhabditis elegans, muito utilizado em laboratórios de pesquisa devido a sua capacidade de permanecer mais de 400 dias mantidos a -80ºC sem serem prejudicados.
Ao fazer a análise genômica do animal que ficou milênios em criptobiose, eles ainda descobriram que ele pertence a uma espécie completamente desconhecida, nomeada agora como Panagrolaimus kolymaensis.
Questionado sobre a possibilidade de utilizar o mesmo processo em seres humanos, Schiffer respondeu que é “muito, muito pouco provável”, devido às grandes diferenças entre os dois seres. Contudo, seus colegas de pesquisa continuam investigando como esses animais conseguem passar intactos por condições ambientais tão extremas. “Diante das mudanças climáticas e do aquecimento global, esse conhecimento nos ajudará muito, no futuro.”