Cientistas localizam crânio humano de 400 mil anos em Portugal
Vestígio é o mais antigo já encontrado no país e o primeiro associado a ferramentas de pedra; descoberta pode ajudar a desvendar origem dos neandertais
O fóssil de um crânio humano com mais de 400.000 anos é o mais antigo já encontrado em Portugal, de acordo com um estudo realizado por um grupo internacional de cientistas. O crânio é o primeiro dessa idade encontrado em Aroeira, cerca de 25 quilômetros ao sul de Lisboa, onde há já haviam sido localizadas grandes quantidades de ferramentas de pedra.
Segundo o estudo, coordenado pelo arqueólogo João Zilhão, da Universidade de Bristol (Reino Unido) e publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), a descoberta ajudará a compreender a evolução humana na Europa no período Pleistoceno (entre 1,8 milhões e 11.000 anos atrás) e a desvendar a origem dos neandertais.
“Tenho estudado esse sítio nos últimos trinta anos e nós conseguimos dados arqueológicos muito importantes, mas a descoberta de um crânio humano dessa idade e dessa importância é sempre um momento muito especial”, disse Zilhão.
Até agora, nenhum fóssil da metade do Pleistoceno havia sido encontrado em uma área tão ocidental da Europa, segundo um dos autores, o antropólogo Rolf Quam, da Universidade Binghamton, nos Estados Unidos. “A descoberta desse novo fóssil da Península Ibérica é interessante, porque se trata de uma região crucial para a compreensão da origem e evolução do homem de Neanderthal. Ele é também o mais antigo do continente associado à fabricação de ferramentas de pedra”, afirmou Quam.
Segundo ele, ao contrário de outros fósseis do mesmo período encontrados em outros locais da Europa, o crânio foi datado com precisão e ele pertence a um contexto arqueológico, pois ao seu redor foram achados muitos fósseis de animais e diferentes ferramentas, incluindo inúmeros machados de pedra de duas faces.
Crânio mais antigo
“O crânio de Aroeira é o fóssil mais antigo já encontrado em Portugal e compartilha algumas características com outros fósseis do mesmo período na Espanha, França e Itália”, declarou Quam. Segundo o estudo, o crânio foi encontrado no fim de 2014. Como os sedimentos onde ele foi localizado estavam firmemente “cimentados”, o crânio foi removido dentro de um grande bloco sólido.
Para preparar a extração – um processo que demorou dois anos – ele foi transferido para os laboratórios de restauração do Centro de Investigação sobre a Evolução e Comportamento Humanos, um centro de pesquisas em paleoantropologia de Madri, na Espanha.
“Os resultados do estudo só foram possíveis por causa do trabalho duro de inúmeros indivíduos nos últimos anos. Isso inclui arqueólogos que escavaram o local por muitos anos, o preparador que removeu o fóssil de sua brecha, os pesquisadores que fizeram a tomografia computadorizada e as reconstruções virtuais do crânio e os antropólogos que estudaram o fóssil”, disse Quam.
De acordo com os cientistas, o novo fóssil será a atração principal de uma exposição sobre a evolução humana que será realizada em outubro, no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.
(Com Estadão Conteúdo)