Há anos, o grupo de pesquisa do astrofísico James Geach, na Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido, tentava convencer o comitê responsável pelo Alma, maior radiotelescópio do mundo, a conceder um tempo na concorrida grade de utilização do equipamento para estudar uma galáxia distante. O objeto está a 11 bilhões de anos-luz de distância e, por isso, os administradores não acreditaram que o grupo pudesse ver alguma coisa com clareza, mas, depois de muita insistência, eles autorizaram a utilização. O resultado, para a surpresa de todos, foi divulgado nesta quarta-feira, 6: os cientistas descobriram o campo magnético mais antigo do universo.
Esses elementos são vistos com muita frequência nas vizinhanças solares, desde a própria Terra, até galáxias próximas, mas, até agora, os astrônomos ainda não sabiam muito sobre como esses campos são formados ou quando eles surgem na história do Universo. Essa nova descoberta mostra que eles são superantigos e surgiram pouco tempo após o Big Bang.
“Quando nós finalmente conseguimos um tempo no observatório e eu olhei para os resultados obtidos, segurei a respiração. Será que havíamos mesmo conseguido fazer a detecção?”, contou a VEJA o autor sênior do artigo publicado na Nature, James Geach. “Quando descobrimos que sim, o time todo ficou encantado”.
As escalas são relativas, é claro. Estima-se que o universo tenha cerca de 13,7 bilhões de anos, o que quer dizer que o sinal detectado agora pelo Alma foi emitido 2,5 milhões de anos após o Big Bang, quando as galáxias estavam no estágio mais intenso de formação.
Os pesquisadores também conseguiram observar que o campo está alinhado com o disco de rotação da galáxia, que ainda estava em sua fase inicial. Isso já havia sido previsto matematicamente, mas é a primeira vez que astrônomos conseguem fazer uma observação direta desse fenômeno. Isso ainda reforça uma crença dos pesquisadores, de que o aparecimento desses campos é impulsionado pela formação de novas estrelas.
Campos magnéticos são elementos importantes do Universo, capazes desde proteger a Terra da radiação externa até modificar o surgimento de novas estrelas nas mais diversas galáxias. Elucidar os mecanismos envolvidos na sua formação pode ajudar na melhor compreensão de como tudo se formou, inclusive a Via Láctea, e, em última instância, o que possibilitou que a vida chegasse até aqui.
“Anteriormente não sabíamos quão cedo no Universo os campos magnéticos surgiram nas galáxias e, agora, temos evidências sólidas de que o processo aconteceu rapidamente”, diz Geach. “Acredito que novas observações descobrirão evidências ainda mais antigas de campos magnéticos que se estabeleceram em galáxias distantes e espero que esses resultados encorajem outros para tentar obter mais observações.”