Cientistas desenvolvem embriões de macacos com células humanas
Estudo publicado em revista científica americana diz que os híbridos, chamados quimeras, devem ser usados apenas em pesquisas biomédicas

Quimeras são monstros mitológicos com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente. Na ciência, no entanto, podem representar uma combinação heterogênea ou incongruente de elementos diversos, como por exemplo um embrião de macaco com células humanas. Por mais estranho que possa parecer, esse é o resultado de uma experiência publicada nesta quinta-feira, 15, na revista científica “Cell“.
Pela primeira vez, cientistas desenvolveram embriões de macaco contendo células humanas. Eles observaram células humanas e de macaco se dividirem e crescerem juntas, com pelo menos 3 embriões sobrevivendo até 19 dias após a fertilização. A principal aplicação desses embriões híbridos, conhecidos justamente como quimeras, seria a construção de modelos melhores para testar drogas e para cultivar órgãos humanos para transplantes.
“Essas abordagens quiméricas podem ser realmente muito úteis para o avanço da pesquisa biomédica, não apenas no estágio inicial da vida, mas também no último estágio da vida ”, disse em nota Juan Carlos Izpisua Belmonte, especialista em células-tronco do Salk Institute for Biological Studies, na Califórnia, e um dos autores do estudo.
A publicação, no entanto, já causou uma discussão ética que tem precedentes em outros estudos conduzidos por Izpisua Belmonte. Em 2019, ele e uma equipe numerosa de cientistas conseguiram desenvolver embriões de macacos in vitro por até 20 dias depois da fertilização. E em 2017, registraram outros embriões híbridos: de porco com células humanas, de vaca com células humanas e de ratos com células de camundongo.
À revista “Nature”, Izpisua Belmonte disse que a equipe não pretende implantar embriões híbridos em macacos. O objetivo, diz ele, é compreender melhor como as células de diferentes espécies se comunicam no embrião durante sua fase inicial de crescimento.