A fluorescência em rãs foi observada pela primeira vez por cientistas. A descoberta foi feita em exemplares da espécie Hypsiboas punctatus, comum na América do Sul, que, em um ambiente escuro com luz ultravioleta, apresenta uma iluminação própria, com um intenso brilho verde. A propriedade foi descrita na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) nesta semana e, além de ser rara em animais terrestres, nunca havia sido identificada em anfíbios.
A descoberta se deu em laboratório, quando a equipe de pesquisadores da Universidade de Buenos Aires e da Universidade de São Paulo (USP) estudava a origem metabólica dos pigmentos de rãs. Nos testes com os animais em cativeiro, eles identificaram o pigmento biliverdina, que provoca fluorescência vermelha em alguns insetos, nos exemplares da Hypsiboas punctatus. Mas, ao exporem os animais à luz ultravioleta, os cientistas ficaram surpresos ao ver um brilho esverdeado.
“Detectamos esta fluorescência tão intensa que ficamos emocionados”, relata Julián Faivovich, pesquisador do Conselho Nacional de Ciência e Técnica (Conicet), integrante da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires e um dos autores do estudo. Ele explica que o fenômeno é uma “questão metabólica e fisiológica presente na espécie”.
Anfíbio fluorescente
Diferente da bioluminescência, a fluorescência não acontece em ambientes sem luminosidade. “As moléculas da rã absorvem luz de uma determinada longitude de onda, se excitam e reemitem a luz de outra cor de menor energia, que neste caso é o verde-celeste”, disse Faivovich à AFP. O pesquisador explica que, na espécie, a origem da fluorescência se deve a “uma combinação da emissão de compostos das glândulas da pele e da linfa – excesso de líquido do sangue – que é filtrada pelas células pigmentares também da pele, que nesta espécie é translúcida”.
Para verificar que o fenômeno é natural da Hypsiboas punctatus e não consequência do cativeiro, os pesquisadores analisaram outros exemplares da espécie e verificaram a propriedade luminescente em todos, o que é muito raro em vertebrados terrestres. “A fluorescência em organismos naturais é muito comum em espécies aquáticas, e mais ou menos usual em alguns insetos, mas nunca havia sido reportada cientificamente em anfíbios”. Para Faivovich, a descoberta “modifica radicalmente o que se conhece sobre a fluorescência em ambientes terrestres”.
Segundo o cientista, a descoberta abre caminho para que novos compostos fluorescentes sejam estudados, com possíveis aplicações científicas ou tecnológicas. A característica também dá espaço para um novo olhar sob esses animais, já que a fluorescência pode estar ligada à comunicação visual entre esses indivíduos. Para os pesquisadores, é provável que esta fluorescência se manifeste também em outras espécies que apresentam propriedades de pele semelhantes à Hypsiboas punctatus.
(Com AFP)