Cientistas capturam pela 1ª vez exemplar vivo de molusco gigante
Esta foi a primeira vez que ops pesquisadores identificaram um exemplar vivo do animal que tem o tamanho de um taco de beisebol

Pela primeira vez, cientistas capturaram um exemplar vivo do molusco gigante Kuphus polythalamia. Ao contrário de espécies similares, que chegam a vinte centímetros de comprimento, o Kuphus tem, em média, um metro e meio. A descoberta, feita nas Filipinas, e as primeiras análises acerca do animal foram publicados na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States America (PNAS), nesta segunda-feira.
Apesar das conchas desses animais serem bem comuns e conhecidas desde o século XVIII, os biólogos nunca haviam tido acesso aos animais vivos em seu interior. Dessa forma, pouco se sabia sobre a espécie. Para encontrá-la, o time de pesquisadores dos Estados Unidos, Filipinas e França teve sorte. Um documentário exibido na TV filipina mostrava várias conchas utilizadas pelo animal no fundo lamacento de um lago na ilha de Mindanao, nas Filipinas. Foi aí que a equipe deu início a expedição em busca da Kuphus polythalamia na região, capturando cinco exemplares com vida.
Os cientistas trouxeram os animais ao laboratório, dentro de aquários, e os lavaram, cuidadosamente, para remover a lama da superfície das conchas. Eles então, abriram a ‘tampa’ das estruturas e retiraram os moluscos vivos. Os biólogos já acreditavam que o Kuphus polythalamia seria radicalmente diferente de seu primo, o Teredo navalis, popularmente conhecido como cupim-do-mar, e a descoberta apenas confirmou a discrepância, especialmente envolvendo o sistema digestivo.
Segundo o estudo, uma possível explicação para o molusco gigante ser tão diferente é o seu habitat e a disponibilidade de alimentos. O Teredo navalis tem os órgãos digestivos maiores e mais desenvolvidos por viverem nos oceanos e se alimentarem de madeira em apodrecimento, que eles mastigam e digerem com a ajuda de bactérias. O Kuphus polythalamia também utiliza bactérias na digestão, mas, como ele vive em lagos cheios de lama e matéria orgânica, sua alimentação é diferente. Esse ambiente é rico em sulfeto de hidrogênio, utilizado como fonte de energia para as bactérias que vivem dentro da concha desses animais. Elas usam o composto em reações químicas que liberam carbono orgânico, que, por sua vez, alimenta o molusco. O processo é similar à fotossíntese, na qual as plantas utilizam a energia o sol para converter dióxido de carbono em comida. Como as bactérias fazem todo o trabalho para o grande molusco, os seus órgãos digestivos são pequenos, devido ao pouco uso.
A equipe de pesquisa continuará a examinar as diferenças entre as espécies e o papel que a madeira desempenha nesta transição. “Também estamos interessados em ver se mudanças semelhantes podem ser encontradas para outros animais que vivem em habitats únicos em todo o mundo”, disse o biólogo marinho Daniel Distel, da Northeastern University, nos Estados Unidos que conduziu o estudo. Para os cientistas, o Kuphus polythalamia é apenas um exemplo de quão grande e complexa é a biodiversidade na Terra e que ainda há muito para se conhecer.
Confira o vídeo do momento em que Daniel Distel remove o molusco de sua concha, divulgado pelos pesquisadores: