Durante quatro anos, uma equipe liderada pela ecóloga Luísa Maria Diele-Viegas, professora da Universidade Federal da Bahia, se debruçou sobre dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em busca de padrões de queimadas nos seis biomas brasileiros, de 2011 a 2020. Os pesquisadores também fizeram projeções sobre a ocorrência de incêndios, vulnerabilidade e risco nas regiões estudadas tendo como referência as previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O resultado do trabalho foi publicado nesta terça, 25, na revista científica PeerJ Life & Environment.
No período de nove anos, a frequência e a quantidade de queimadas da Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia, cujas condições climáticas não favorecem o fogo, foi semelhante a dos biomas do Cerrado, Pampa e Pantanal, nos quais o fogo é um elemento natural. Isso deve-se, em grande parte, à ação do homem, que tem como hábito usar as queimadas como ferramenta eficiente, de baixo custo e rápida nas suas práticas agrícolas. Em uma imagem simples, a resiliência das regiões ao fogo foi nivelada por baixo.
De acordo com os pesquisadores, os biomas na América do Sul provavelmente experimentarão um aumento persistente na temperatura, possivelmente combinado com a redução da umidade devido às mudanças climáticas. Além disso, fontes naturais de ignição por incêndio, como raios, podem se tornar mais frequentes em cenários de mudanças climáticas, pois é provável que condições favoráveis, como ambiente seco, ocorram com mais frequência. Com isso, existe maior possibilidade desse fogo se espalhar por esses ecossistemas. “Tivemos um gostinho disso em 2020, com os incêndios do Pantanal”, disse Diele-Viegas.
Houve, no entanto, pequenas variações em cada região, o que pode ser atribuído, também, a eventos de incêndios naturais. A Caatinga, por exemplo, foi o bioma com menos recorrência de queimadas, em razão de condições desfavoráveis à propagação do fogo. As queimadas foram mais persistentes na Mata Atlântica, que vê diminuir a sua capacidade de se adaptar ao fogo ao longo do tempo. A Amazônia aparece como mais resiliente, em comparação a outros biomas.
Para a professora Diele-Viegas, é necessário tomar medidas para mudar o curso dessas projeções e mitigar a ação predatória do homem nesses biomas. No que diz respeito ao fogo e mudanças climáticas, ela diz que deve-se começar a mudar a cultura da queimada. Existem alternativas sustentáveis, até porque fogo gera gás de efeito estufa. “Se isso é uma cultura e isso ocorre todos os anos, é preciso ter uma brigada de incêndios efetiva”, diz ela. “Precisamos de recursos humanos e financeiros para minimizar essa situação. No que diz respeito às mudanças climáticas, é trabalhar a longo prazo.”