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Bióloga defende uso da ciência para trazer de volta animais desaparecidos

A americana Beth Shapiro está à frente de um projeto privado de 'desextinção' do dodô

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h43 - Publicado em 7 Maio 2023, 08h00
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  • A bióloga Beth Shapiro, de 47 anos, ganhou fama recentemente como líder de um projeto de “desextinção” do dodô, ave típica das Ilhas Maurício desaparecida no século XVII. Professora da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, ela havia escrito, em 2015, How to Clone a Mammoth (Como clonar um mamute, em tradução livre), inédito no Brasil, no qual descreve o processo, também chamado de biologia da ressurreição, pelo qual as extinções de plantas e animais são revertidas criando-se novas versões das espécies perdidas. Em seu livro mais recente, Brincando de Deus (Editora Contexto), que acaba de ser lançado no Brasil, a cientista defende com gana a intervenção da biotecnologia, que inclui sequenciamento genético, edição de genes e outras técnicas, como instrumento de preservação e manutenção sustentada da vida no planeta.

    A paleogeneticista trabalha na Colossal, empresa de engenharia genética com laboratórios em Dallas, Austin e Boston, nos Estados Unidos, parque de diversões para quem gosta do tema. “Uma vez que uma espécie se foi, ela se foi”, disse Shapiro a VEJA. “Em contrapartida, todo organismo é mais do que apenas seu DNA.” Portanto, simplesmente copiá-lo não significaria muita coisa. Caso contrário, gêmeos idênticos seriam pessoas intercambiáveis. Mas não são, porque vivem experiências únicas ao longo de suas vidas e são afetados por elas de modos diferentes. Da mesma maneira, trazer de volta um mamute lanoso ou um dodô não significa replicar o mesmo animal, mas um híbrido de um elefante ou uma ave adaptados às condições climáticas de hoje. “Sem o hábitat, os mamutes, que já se foram há milhares de anos, seriam apenas elefantes asiáticos adaptados ao Ártico”, compara a pesquisadora.

    DE VOLTA - Fóssil da ave desaparecida no século XVII: novo animal será híbrido
    DE VOLTA - Fóssil da ave desaparecida no século XVII: novo animal será híbrido (Matt Dunham/AP/Image Plus)

    Uma das maiores especialistas em biologia evolutiva do mundo, Shapiro assina estudos sobre DNA antigo que mostram como a humanidade vem transformando a natureza desde que os primeiros indivíduos modernos emigraram há 50 000 anos da África, domesticaram animais e se estabeleceram em comunidades. Para ilustrar suas ideias, ela parte da imagem de uma fêmea de bi­são-americano pastando tranquilamente, em meio à manada da qual faz parte, nas pradarias do centro-oeste dos Estados Unidos. Os animais chegaram ao continente americano cruzando a antiga ponte de terra que ligava a Ásia à América do Norte durante o Pleistoceno, cerca de 400 000 anos atrás. Muito tempo depois, os humanos percorreram o mesmo caminho em busca de sua carne e outros derivados.

    No início do século XIX, a população de bisões havia diminuído perigosamente, tanto em razão da domesticação quanto da caça indiscriminada. Com o nascimento do conservacionismo, o gado foi protegido e preservado. Hoje, a população da espécie gira em torno de 400 000 indivíduos, graças ao ciclo virtuoso do movimento que se espalhou pelo mundo. O surgimento da biotecnologia e de técnicas como clonagem e edição de genoma deve contribuir para diminuir ou até reverter a queda da biodiversidade. “Na América do Sul, os pumas passaram pelo mesmo processo”, disse Shapiro. “Essas ferramentas são válidas para preservá-los das mudanças genéticas naturais e mantê-los vivos.”

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    VERSÃO - Mamute: o elefante jamais voltará exatamente como era antes
    VERSÃO – Mamute: o elefante jamais voltará exatamente como era antes (Sciepro/SPL/AFP)

    O discurso em torno da biogenética envolve a questão da manipulação dos genes humanos, também abordada no livro da professora Shapiro. Embora ela desaprove a ideia, considera irrealista utilizar a técnica para criar seres humanos mais fortes e superiores. Uma solução plausível para essas preocupações seria estabelecer barreiras legais para impedir pesquisas nessa direção. No entanto, empregar a edição genética para tornar humanos resistentes a vírus mais potentes que a Covid-19, por exemplo, não seria moralmente censurável. “É assim que vamos embarcar na edição de genes humanos, mas não com a ideia fantasiosa de criar alguém com habilidades sobre-humanas ou beleza física excep­cio­nal”, afirmou ela. Como na maior parte das realizações científicas, a biotecnologia deve ser aplicada com responsabilidade, seja para reviver animais, seja para proteger a vida humana.

    Publicado em VEJA de 10 de maio de 2023, edição nº 2840

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