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As duas obras de arte com destino à Lua

Antes da retomada das missões tripuladas, projetada para 2025, a Nasa se prepara para levar ao satélite um adorno inesperado

Por Matheus Deccache 14 ago 2022, 08h00

O fascínio pela Lua sempre motivou canções, poemas e amores, e não se dissipou nem quando passou do plano abstrato para o concreto em 1969, momento em que o homem fincou sua bota, pela primeira vez, no solo intocado. A histórica caminhada do americano Neil Armstrong foi repetida em outras cinco ocasiões por onze astronautas da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, mas as visitas ao satélite da Terra foram suspensas por motivos financeiros e há cinquenta anos nenhum ser humano passeia por lá. Esse estado de coisas, no entanto, está para mudar. Graças a uma inovadora parceria entre a Nasa e empresas privadas — uma espécie de PPP espacial —, uma nova missão tripulada deve ocorrer até 2025 e, antes disso, a Lua receberá, possivelmente ainda neste ano, um adorno inesperado: duas esculturas criadas especialmente para sua desértica paisagem.

Afeito a projetos impactantes, o americano Jeff Koons propõe-se a homenagear o próprio satélite em uma obra composta de 125 miniaturas da Lua. Com cerca de 2,5 centímetros de diâmetro, elas levarão o nome de pessoas que Koons admira, como Leonardo da Vinci, Marilyn Monroe e Elvis Presley. “A superfície lunar inteira é reflexão de luz. E, a partir da filosofia, eu sempre fui atraído para essa reflexão”, diz o controvertido Koons, mestre da arte pop que detém o recorde de peça mais cara vendida por um artista vivo (seu coelho de aço inoxidável alcançou 91,1 milhões de dólares) e virou celebridade ao se unir por um ano à atriz pornô, depois política, húngaro-italiana Cicciolina. Dentro do projeto Fases da Lua, Koons vai comercializar em Terra uma escultura maior, espécie de mãe das pequenas esferas, e prevê a venda de um NFT, obra de arte digital certificada que se tornou mania entre os endinheirados.

PASSO A PASSO - Sacha Jafri: obra de arte no espaço e nos leilões digitais -
PASSO A PASSO - Sacha Jafri: obra de arte no espaço e nos leilões digitais – (./AFP)

Já Sacha Jafri, artista britânico radicado em Dubai, pretende mandar para o espaço uma placa de alumínio revestida de ouro contendo a imagem de um coração meio psicodélico. Quando a obra, intitulada Nós Nos Elevamos Juntos — com a Luz da Lua, partir para seu destino, Jafri — que durante a pandemia criou a maior tela já pintada, de 1 500 metros quadrados, posteriormente vendida por 62 milhões de dólares — vai comercializar cinco NFTs do original seguindo os passos da missão: “a entrada do foguete na estratosfera, a circum-navegação da Terra, o estilingue lunar, o pouso e o legado da obra de arte eternamente na Lua”.

Ciente da sedução exercida pela Lua, a Nasa investiu 250 milhões de dólares no projeto Artemis, nome da irmã gêmea do deus grego Apolo, que batizou as missões lunares nas décadas de 60 e 70, com apoio tecnológico e financeiro de diversas empresas privadas. “O espaço é de todos e a obra de Sacha Jafri personifica esse espírito”, pondera Dan Hendrickson, vice-presidente da Astrobotic, desenvolvedora de robótica espacial que patrocina o lançamento, literalmente neste caso, da criação do artista britânico. O financiamento da viagem das luazinhas de Koons, por sua vez, ficará a cargo da Intuitive Machines, primeiro empreendimento comercial a fornecer infraestrutura lunar. “Quando ir à Lua deixa de ser algo inalcançável e se torna viável, a expectativa da humanidade muda completamente. As empresas querem captar isso criando novos produtos”, explica Murilo Moreno, professor de marketing da ESPM de São Paulo.

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MINILUAS - Koons: 125 miniaturas com nomes de pessoas que o artista admira e uma esfera maior para ser vendida em terra firme -
MINILUAS – Koons: 125 miniaturas com nomes de pessoas que o artista admira e uma esfera maior para ser vendida em terra firme – (./Divulgação)

As esculturas vão pegar carona nas missões não tripuladas da fase 1 do projeto Artemis e serão depositadas no Oceanus Procellarum, o maior dos “mares” lunares, junto com sondas exploradoras e outros equipamentos. O foguete que levará três astronautas, entre eles um negro e uma mulher — um calculado movimento pró-diversidade —, só deve entrar em órbita daqui a três anos, com a marca da SpaceX, do bilionário Elon Musk. O Artemis mira um novo e gigantesco salto: preparar o satélite terrestre para ser um trampolim da conquista de Marte. “A presença maciça da iniciativa privada junto à Nasa não é à toa. Há um enorme e lucrativo mercado na Lua”, diz Roberto Dell’Aglio, professor de astronomia da USP. Em um horizonte mais distante, turistas poderão visitar o satélite. Lá, além de flutuar na baixa gravidade e admirar o cenário de cinema, os visitantes verão de perto obras de arte feitas para um museu além da imaginação.

Publicado em VEJA de 17 de agosto de 2022, edição nº 2802

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