A seca que atinge países do leste africano é um problema que, há décadas, chama a atenção de todo o mundo, um problema que é agravado pela pobreza da região. Até agora, países desenvolvidos não têm agido de maneira contundente para amenizar essa situação. Um relatório divulgado essa semana, contudo, pode forçar uma tomada de ação. Pesquisadores da World Weather Attribution apontam que a seca da última década foi agravada pelo aquecimento global.
O grupo analisou históricos climáticos e modelos computacionais desde o século XIX. Os resultados mostraram que, desde 2020, seis períodos de chuva tiveram níveis de pluviosidade menores do que o esperado, o que resultou na pior seca em 40 anos.
Como consequência, as colheitas e as pastagens diminuíram, grande parte do gado morreu, a água superficial se tornou escassa e os conflitos humanos aumentaram, o que deixou pelo menos 4,3 milhões de moradores em necessidade de assistência humanitária. De acordo com a Organização das Nações Unidas, mais de 20 milhões foram afetados pela seca entre Quênia, Etiópia, Somália, Uganda e Sudão do Sul.
Para o cientista sênior da University College London e líder do estudo, Friederike Otto, em entrevista à Associated Press, esses dados evidenciam o quão mais fortes são as consequências do aquecimento global em países mais vulneráveis.
Apesar das chuvas terem aumentado em 2023, a recuperação ainda não será suficiente para remediar a grave situação de insegurança alimentar, que atinge cerca de 15 milhões de crianças.
A Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP) discute anualmente esses impactos e a cada reunião aumentam as pressões para que medidas mais práticas sejam tomadas pelos países que, historicamente, mais contribuíram com o aquecimento global. A medida que os relatórios do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) apontam uma janela menor para a resolução desses problemas, o impacto sobre os países mais pobres fica cada vez mais evidente. Medidas para diminuir a gravidade desse problema são urgentes.