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Apesar do feminismo, mulheres ainda esperam que homens paguem a conta durante um encontro romântico

Segundo pesquisa, na prática, as normas tradicionais ainda vencem: 84% dos homens e 58% das mulheres relataram que os homens pagam maior parte das despesas. E mais: 44% das mulheres se sentem incomodadas quando um homem espera que elas ajudem a pagar

Por Da Redação
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h18 - Publicado em 15 ago 2013, 17h29
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  • Até que ponto vai o tradicional cavalheirismo e onde começam as discussões sobre a igualdade de gêneros nos relacionamentos? Pesquisadores da Universidade do Estado da Califórnia, Universidade Chapman e do Wellesley College, nos Estados Unidos, investigaram a opinião de homens e mulheres sobre quem deve se encarregar das despesas dos primeiros encontros do casal – e o que acaba acontecendo na prática.

    Nos Estados Unidos, oito em cada dez casamentos são organizados de forma que os dois membros contribuem com as despesas da casa. Mas, em fases anteriores do relacionamento, ainda são muito fortes as noções tradicionais, segundo as quais o homem deve pagar pelos primeiros encontros. “Uma vez que um casal está estabelecido e se assume como ‘namorando’, eu acredito que existe igualdade de gênero no que se refere a dividir as despesas, mas nos primeiros encontros, quando as pessoas estão nervosas, elas se apoiam em um script tradicional, segundo o qual a mulher se arruma e o homem paga”, disse, ao site de VEJA, Janet Lever, professora de sociologia da Universidade Estadual da Califórnia e coautora do estudo.

    Para descobrir como homens e mulheres lidam com as despesas antes do casamento, os autores realizaram uma pesquisa com mais de 17 000 participantes. Os resultados do estudo foram apresentados no evento anual da Associação Americana de Sociologia, no último domingo.

    Tradição – De forma geral, as normas tradicionais ainda vencem: 84% dos homens e 58% das mulheres relataram que os homens pagam pela maior parte das despesas, mesmo depois de alguns meses de relacionamento. Mais da metade das mulheres (57%) afirmaram que se oferecem para dividir a conta. Mas, ao mesmo tempo, 39% delas confessaram esperar que o homem não aceite a ajuda. De fato, 44% das mulheres se sentem incomodadas quando um homem espera que elas ajudem a pagar.

    “As mulheres ficam divididas. Elas gostam que os homens paguem e veem isso como uma vantagem. Muitas mulheres dizem que não gostam quando um homem espera que elas paguem. Acho que elas querem ter escolha”, conta Janet.

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    Os sentimentos contraditórios não ficaram restritos às mulheres. Quase dois terços (64%) dos homens acreditam que as mulheres deveriam contribuir com as despesas dos encontros, e muitos têm uma opinião bem formada em relação a isso – 44% dos homens disseram que terminariam um relacionamento com uma mulher que nunca ajuda a pagar. Porém 76% dos homens relataram que se sentem culpados em aceitar o dinheiro de uma mulher.

    Para a pesquisadora, isso se deve à permanência de ensinamentos tradicionais, que, mesmo quando deixam de condizer com a época, permanecem na mente das pessoas. “Os homens pensam: ‘Se eu fosse cavalheiro, eu estaria pagando a parte dela.’ Mas eles sabem que isso não é justo diante das conquistas das mulheres no mercado de trabalho e em seu desejo e luta por um tratamento igualitário”, afirma.

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    Mudanças – A situação parece se alterar com o passar do tempo de relacionamento. Quatro em cada dez homens concordaram que as despesas eram ao menos parcialmente divididas após o primeiro mês, e 74% deles e 83% das mulheres reportaram alguma divisão das contas com seis meses de relacionamento. Os jovens, de ambos os sexos, se mostraram mais propensos a adotar comportamentos igualitários, mas essa inclinação não se restringiu a eles.

    Apesar das diversas evidências de resistência à mudança, os pesquisadores acreditam que os rituais acerca de quem paga as contas de um encontro estão mudando, ao mesmo tempo em que os papéis sociais dos homens e das mulheres também sofrem transformações. “Nós mudamos. Antes tudo era pago para as mulheres até o casamento, em muitos casos. Agora as mulheres estão pagando, mas estão atrasando isso até depois daquela fase complicada de início de um relacionamento”, afirma Janet.

    “O ‘sexismo benevolente’ também é uma forma de dominação”

    Janet Lever

    Professora de sociologia da Universidade Estadual da Califórnia, EUA

    Por que algumas práticas relacionadas aos gêneros são mais resistentes a mudanças do que outras?

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    É muito simples. Os homens ficaram felizes em dividir o papel de provedor, porque isso tornou a vida deles mais fácil, diminuiu a pressão. Mas eles não ficaram tão felizes em dedicar seu tempo de lazer para limpar a casa e cuidar das crianças. Todas as pessoas ficam felizes com mudanças sociais que as beneficiam e resistem a mudanças que acreditam que podem tornar suas vidas piores. De fora geral, com mudanças feministas, as mulheres são beneficiadas, mas neste caso elas sentem que estão perdendo a “vantagem” de serem tratadas com cavalheirismo em um encontro. Elas não percebem que, de forma mais ampla, esse “sexismo benevolente” está relacionado com o sexismo hostil. Ao colocar a mulher em um pedestal, o homem ainda é quem está “tomando conta” dela e ainda é dominante no relacionamento.

    O artigo afirma que a maior parte dos casamentos nos dias de hoje se baseiam na divisão da responsabilidade de conseguir o sustento da família. Por que a senhora acha que essa relação muda após o casamento?

    Essa relação muda antes do casamento, assim que o casal se estabelece de fato. Mas mesmo nessas condições nosso estudo mostra que os homens ainda pagam mais. O que nós acreditamos que pode ser uma boa resposta para essa questão é: o homem deseja uma mulher moderna, que divida com ele o fardo de ser o provedor, mas ele ainda quer “tratá-la como uma dama”, como ele foi ensinado a fazer. Nós estimamos que o homem ficaria satisfeito se a mulher pagasse cerca de um terço das despesas (o que, a propósito, é a mesma proporção de trabalhos domésticos e cuidados com os filhos feita por homens nos Estados Unidos).

    Se levarmos em consideração apenas os casais mais jovens, os resultados seriam diferentes?

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    Eu acredito que homens de 20, 30, 40 ou 50 anos se sentem da mesma forma. A idade não foi um fator determinante entre concordar ou discordar, mas os homens mais jovens tendiam a responder mais que eles “concordavam totalmente” com a divisão das despesas, enquanto os mais velhos diziam que eles “concordavam de certa forma”.

    A senhora acredita que estamos caminhando para uma mudança em mais questões relacionadas aos gêneros?

    Nós mudamos. Antes tudo era pago para as mulheres até o casamento, em muitos casos. Agora as mulheres estão pagando, mas estão atrasando isso até depois daquela fase complicada do início de um relacionamento. Quatro em dez homens afirmam que as despesas começam a ser divididas após um mês do começo de um namoro. Isso é uma mudança social. Eles não estão dizendo que as despesas são divididas meio a meio – geralmente elas não são – mas a maior parte dos homens está bem com isso. Um em cada dez homens não quer que a mulher pague de jeito nenhum. E cerca de um quarto deles apresentou visões igualitárias consistentes. Esses são os mais propensos a desistir de um relacionamento se a mulher nunca desejar pagar uma parte das despesas.

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